
Setembro é o mês dedicado à prevenção do suicídio. No Brasil, o Setembro Amarelo traz à tona uma questão ainda pouco discutida fora do círculo das famílias atípicas: o impacto psicológico das barreiras sociais enfrentadas por pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e seus cuidadores.
Segundo o IBGE, são 2,4 milhões de brasileiros diagnosticados com TEA, correspondendo a 1,2% da população com dois anos ou mais. A maior prevalência está em crianças de 5 a 9 anos, com 2,6% diagnosticadas — uma em cada 38 crianças.
A escolarização é um dos principais gargalos. Apesar de 36,9% das pessoas com autismo estarem na escola, a permanência cai bruscamente após o ensino fundamental. Entre os adultos com 25 anos ou mais, 46,1% não concluíram o ensino fundamental, percentual acima da média nacional (35,2%). No mercado de trabalho, o cenário é ainda mais excludente: 85% dos autistas estão fora da força de trabalho, segundo o IBGE.
Essa combinação de obstáculos tem reflexos diretos na saúde mental. Dados internacionais da National Autistic Society indicam que 66% das pessoas autistas já pensaram em suicídio, e 35% planejaram ou tentaram fazê-lo. No Brasil, a pesquisa “Retratos do Autismo”, da Genial Care, aponta que 49% dos autistas já apresentaram comportamentos de autolesão e 7% tentaram tirar a própria vida.
No Brasil, as barreiras estruturais e sociais impostas pela falta de acessibilidade e inclusão impactam diretamente a saúde mental de pessoas autistas. Desde o diagnóstico até a inclusão no mercado de trabalho, os desafios se acumulam, exigindo estratégias contínuas de enfrentamento e suporte.
“O apoio às pessoas autistas é uma prioridade estratégica para a saúde pública e social. Evidências indicam que indivíduos com TEA apresentam riscos significativamente maiores de desafios emocionais e psicológicos, reforçando a necessidade de políticas e práticas coletivas. A combinação de exclusão social, dificuldades de inserção no mercado de trabalho e ausência de suporte adequado exerce efeitos diretos e cumulativos não apenas sobre os autistas, mas também sobre suas famílias”, afirma a Psicóloga e Coordenadora de Formação Clínica da Genial Care, rede de cuidado de saúde atípica especializada em crianças autistas e suas famílias, Grazielle Bonfim.
Cuidadores sobrecarregados: 68% não têm tempo para si e quase metade sente culpa
Outro ponto que merece atenção é a saúde emocional dos cuidadores de pessoas com autismo. O estudo “Cuidando de quem cuida”, também realizado pela Genial Care, mostrou que 86% dos cuidadores de crianças com TEA são mães. Entre eles, 68% relatam não ter tempo para si, e 47% das mães relatam sentir culpa pela condição dos filhos — um peso que amplia o desgaste físico e psicológico.
A criação de redes de apoio, a capacitação de professores, programas de acolhimento e políticas públicas baseadas nos dados do Censo são passos essenciais para aliviar a sobrecarga e garantir condições mais justas de desenvolvimento.
“A orientação parental auxilia os cuidadores a entenderem melhor os comportamentos desafiadores de seus filhos e a lidar com suas próprias emoções. A inclusão do autocuidado e a criação de uma rede de apoio são aspectos essenciais para promover o bem-estar de toda a família”, destaca Grazielle.
Setembro Amarelo reforça alerta: exclusão social amplia risco de depressão e suicídio
O Setembro Amarelo reforça que saúde mental é responsabilidade coletiva. Para pessoas autistas e suas famílias, essa pauta é urgente: sem diagnóstico precoce, escolas inclusivas, oportunidades de trabalho e suporte adequado, os riscos de isolamento, depressão e suicídio aumentam de forma alarmante.
O fortalecimento de políticas públicas e a implementação de programas de inclusão têm impacto direto na redução de riscos psicológicos para autistas e suas famílias. “Investir em diagnósticos precoces, formação de professores, adaptação de espaços educacionais e incentivo à empregabilidade pode diminuir significativamente os episódios de isolamento, ansiedade e depressão. Além disso, a conscientização social sobre o autismo contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva, onde os direitos e a saúde mental dessas pessoas são respeitados e protegidos”, enfatiza a Coordenadora Clínica da Genial Care.
Além disso, o engajamento da sociedade civil, instituições de saúde e empresas é fundamental para transformar dados em ações concretas. Criar redes de suporte, compartilhar informações e garantir que cuidadores tenham acesso a recursos e orientação especializada são medidas que reduzem a sobrecarga emocional e fortalecem a resiliência das famílias.
“Garantir suporte integral às pessoas com autismo e seus cuidadores não é apenas uma questão de cuidado individual, mas de planejamento social e saúde pública. A prevenção de riscos à saúde mental depende de ações coordenadas, educação inclusiva e políticas de trabalho que considerem as necessidades específicas dessa população. Sem isso, os efeitos da exclusão e da sobrecarga emocional persistem e se acumulam”, destaca Grazielle Bonfim.
Congresso internacional apresenta soluções para comunicação e bem-estar de crianças autistas
Muitas crises emocionais vividas por crianças autistas estão associadas à falta de recursos acessíveis e adaptações adequadas para facilitar a comunicação em diferentes ambientes, incluindo a escola. Para enfrentar esse desafio e promover o bem-estar psicológico, a Genial Care, em parceria com a Revista Autismo e com apoio do Parque da Mônica e do Instituto Mauricio de Sousa, realiza a 3ª edição do Congresso Extraordinário, nos dias 25 e 26 de outubro, em São Paulo, com transmissão ao vivo e online.
Com o tema “Da comunicação à aprendizagem: desmistificando o ensino com autistas”, o congresso reunirá especialistas nacionais e internacionais para discutir estratégias práticas de Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), expressões não verbais e recursos multimodais, ferramentas essenciais não apenas para a aprendizagem, mas também para reduzir episódios de ansiedade e frustração, que impactam diretamente a saúde mental das crianças.
A programação inclui painéis sobre tecnologia aplicada à educação inclusiva, oficinas com terapeutas de referência e a apresentação inédita de um estudo de caso sobre o projeto piloto de adaptação cognitiva no Parque da Mônica e no estúdio da Mauricio de Sousa Produções. “Sem comunicação acessível, não existe aprendizagem possível. Este congresso traz ferramentas para o dia a dia de educadores, terapeutas e famílias”, afirma Grazielle Bonfim, psicóloga da Genial Care e responsável pela curadoria do Congresso.
O evento oferece ingresso social, que permite a participação presencial mediante doação de um brinquedo ou livro infantil, reforçando o compromisso com impacto social e inclusão.
SERVIÇO
3º Congresso Extraordinário – Da comunicação à aprendizagem: desmistificando o ensino com autistas
Data: 25 e 26 de outubro de 2025
Local: Parque da Mônica – São Paulo (SP)
Formato: Híbrido (presencial + online)
Horário: 8h às 11h30 e 13h às 15h (com oficina extra, sujeito a lotação)
Inscrições: Inscrições pelo link, com certificado de participação