
A educação municipal de Piúma vive um momento de grande crise. Desde o início do ano letivo em 12 de fevereiro, a falta de professores nas escolas da cidade tem sido uma preocupação crescente, que se intensificou após o comunicado da Escola Itaputanga, no dia 14 de março, anunciando a suspensão das aulas para uma das turmas devido à ausência de docentes. A situação atingiu um ponto crítico e, diante da pressão de pais e comunidade escolar, o prefeito Paulo Cola convocou uma reunião emergencial para a terça-feira, 18 de março, no ginásio da Escola Itaputanga.

O evento foi uma tentativa de amenizar a crescente insatisfação da população, mas, ao que parece, os resultados não foram suficientes para resolver a questão de forma definitiva. O prefeito, que gravou um vídeo para convocar a comunidade, afirmou que até segunda-feira da próxima semana o problema da falta de professores será resolvido, com a convocação de 360 novos docentes. No entanto, a realidade mostra que, apesar da promessa, ainda faltam 48 professores e 12 dos convocados não se apresentaram até o momento.
O clima durante a reunião foi tenso. A ausência de declaração do Secretário de Educação, Rodrigo Queiroz, e dos representantes do Sindicato dos Professores, que não tiveram voz durante o encontro, contribuiu para a sensação de que as soluções propostas não seriam suficientemente eficazes. A situação se agravou com as falas de uma das poucas pessoas que se posicionaram de forma contundente durante a reunião: a professora Rosimere Coradelo.
Rosimere, conhecida por sua postura firme, criticou abertamente a falta de comprometimento da gestão municipal com a educação. Ela afirmou que, se o prefeito tivesse filhos estudando na rede municipal de ensino, a situação seria diferente. “Se o senhor tivesse, já teria o conhecimento que eu tenho. Se tivesse planejado, a situação não teria chegado a esse ponto”, disse ela, enfatizando a falta de planejamento do governo municipal para lidar com o processo de contratação de professores e a escassez de profissionais efetivos.
A professora ainda criticou a desorganização que levou à crise atual, destacando que a prioridade da gestão foi o Carnaval, enquanto a educação foi deixada de lado.
Sua fala foi uma das poucas que realmente tocou nos pontos cruciais da crise educacional. Ela ainda questionou a qualidade do ensino oferecido na cidade, que parece estar em total descompasso com as necessidades dos alunos. “Estamos roubando o futuro das nossas crianças”, afirmou, destacando a falta de infraestrutura nas escolas e as condições adversas que os professores enfrentam para ministrar aulas de qualidade.
Secretário de Educação minimiza crise:
Em resposta às críticas, o secretário de Educação, Rodrigo Queiroz, esclareceu que a reunião teve como objetivo explicar os obstáculos causados pelo concurso público, que dificultaram a efetivação dos professores. Ele assegurou que até o dia 25 de março todos os docentes estarão em sala de aula. Contudo, o secretário descartou qualquer ideia de crise, afirmando que não sabe quem usou esse termo para se referir à situação, reforçando que considera o problema como algo “pontual” e longe de configurar uma crise.
“Ontem a reunião foi elaborada exatamente para isso, uma pena a imprensa não cobrir as informações. O problema que a educação está enfrentando é pontual, isto é, a falta de professores, não sei de onde foi tirado o termo ‘crise’. A fala do prefeito foi justamente explicar para a comunidade o porquê está ocorrendo a morosidade no preenchimento das vagas. Ele garantiu que os professores estarão em sala de aula até o dia 25/03.”
Embora a reunião tenha sido convocada como uma tentativa de resposta à crise, os compromissos feitos pelo prefeito e seus aliados não parecem ser suficientes para resolver o problema. A promessa de resolver a situação até segunda-feira é irrealista, dado o tamanho do desafio. O processo de convocação de professores e a substituição dos Designados Temporários (DTs) ainda carece de organização e coordenação. Além disso, a recusa de muitos dos aprovados no concurso público em assumir vagas temporárias agrava ainda mais a situação, deixando claro que Piúma enfrenta um problema estrutural na educação que não será resolvido apenas com promessas de convocação.
A questão da qualidade do ensino também precisa ser abordada com urgência. A falta de preparo e a formação inadequada de muitos dos novos professores têm gerado atividades desconectadas do nível dos alunos, comprometendo o aprendizado. A gestão municipal ainda não demonstrou disposição para enfrentar esses desafios de forma concreta e estratégica.
Fala de Nelson Serafim
Nelson Serafim, conhecido por suas frequentes denúncias sobre a atual gestão, voltou a criticar a administração municipal. Em suas redes sociais, ele classificou a situação da educação em Piúma como um “descaso” e acusou o prefeito de não resolver os problemas enfrentados pelos alunos. “O prefeito falou, enrolou e nada resolveu! As crianças continuam sem aula ou saindo mais cedo, prejudicadas por uma gestão que não prioriza a educação. Agora, para calar a boca dos pais, inventaram uma bonificação para os alunos que atingirem 85% da meta — como se fosse isso que resolvesse o caos. Para os professores, antecipação do Fundeb, mas sem melhorias reais nas condições de trabalho”, escreveu.
Fala de Maria Carolina Soares Farias, Mãe de criança autista:
Maria Carolina, mãe de uma criança autista, expressou sua frustração com a situação: “Ser mãe atípica é lutar todos os dias! A escola, que deveria ser um ambiente seguro e acolhedor, tem se tornado mais um desafio diário. A falta de preparo para lidar com crianças atípicas é gritante, e agora, para piorar, esse absurdo do rodízio de aulas. Aula dia sim, dia não… Se já é difícil para uma criança típica, imagina para uma criança autista? A rotina é essencial para o desenvolvimento deles, e essa bagunça só atrapalha a adaptação e o aprendizado.”
O que falta?
É evidente que Piúma precisa de um planejamento mais robusto para a educação, com ações que realmente atendam às necessidades dos alunos e professores. A convocação de novos profissionais é um passo importante, mas não resolve os problemas mais profundos que afetam a qualidade do ensino. A falta de infraestrutura adequada nas escolas, a sobrecarga dos educadores e a ausência de uma política efetiva para atrair e reter bons profissionais são questões que não podem ser ignoradas.
A crítica feita pela professora Rosimere Coradelo foi um alerta para a gestão municipal: a educação precisa ser uma prioridade, e não um problema a ser empurrado para o futuro. “A nossa educação precisa ser tratada com seriedade, e não com promessas vazias”, concluiu ela, representando a voz de muitos profissionais da educação que estão cansados de esperar por soluções que nunca chegam.
Agora, a população espera que, ao invés de promessas vazias, a gestão municipal comece a tomar medidas efetivas que tragam resultados reais para as escolas e, principalmente, para os alunos.
A Prefeitura de Piúma, em resposta à redação, informou que soltará uma nota oficial sobre a reunião na noite desta quarta-feira (19).
FONTE: ESPÍRITO SANTO NOTÍCIAS