
A médica Dra. Thamirys Andrade Ferreira de Oliveira Ribeiro, especialista em Geriatria e Cuidados Paliativos e docente no Centro Universitário de Várzea Grande (MT), participou da coordenação de um estudo recém-publicado na Revista Bioética que revisa o uso de canabinoides, como o canabidiol (CBD), em pacientes de cuidados paliativos. O artigo reúne evidências científicas e reflexões bioéticas sobre como essa alternativa pode aliviar sintomas e melhorar a qualidade de vida de pessoas em situação de vulnerabilidade.
Alívio em meio à dor
Em doenças graves e avançadas, sintomas como dor persistente, náusea, fadiga, ansiedade e perda de apetite continuam sendo grandes desafios, mesmo com os avanços da medicina. Para a Dra. Thamirys, o canabidiol se apresenta como uma ferramenta complementar:
“Nosso objetivo é trazer um olhar claro e humano sobre o uso dos canabinoides. Eles não são uma solução milagrosa, mas podem oferecer conforto, reduzir dores e devolver autonomia a pacientes que muitas vezes já esgotaram outras alternativas de tratamento”, afirma.
O que a ciência já mostrou
O estudo, realizado por uma equipe de jovens pesquisadoras sob orientação da Dra. Thamirys, destaca que o CBD pode ajudar no controle da dor, na redução de náuseas associadas à quimioterapia e no estímulo ao apetite. Também há relatos de melhora na mobilidade e no bem-estar emocional.
Ao mesmo tempo, a pesquisa alerta para os riscos: o THC, componente psicoativo da planta, pode causar ansiedade, paranoia e alucinações, enquanto o CBD, apesar de mais seguro, pode provocar fadiga e desconfortos gastrointestinais.
“É fundamental individualizar cada caso, considerando tanto os potenciais benefícios quanto os efeitos adversos. Não existe receita única, cada paciente reage de forma diferente e cada doença necessita tem suas próprias peculiaridades”, explica a pesquisadora.
Ética e dignidade no cuidado
Mais do que resultados clínicos, a publicação enfatiza o papel da bioética no processo de decisão. Para a Dra. Thamirys, respeitar a autonomia do paciente e dialogar com a família são princípios centrais no cuidado humanizado:
“A escolha de usar ou não o canabidiol precisa ser informada e compartilhada. Cabe ao profissional explicar riscos e benefícios de forma acessível, sempre valorizando a dignidade e os valores pessoais do paciente”, reforça.
Avanços e desafios
Embora a literatura já aponte benefícios importantes, a pesquisadora destaca que o Brasil ainda carece de mais estudos clínicos robustos e de políticas claras sobre dosagens, formulações e acesso ao tratamento. Questões sociais, religiosas e culturais também influenciam diretamente a adesão e devem ser consideradas.
Um debate necessário
A Dra. Thamirys vê no estudo uma oportunidade de ampliar o diálogo sobre alternativas terapêuticas em cuidados paliativos:
“Queremos trazer informações de qualidade para médicos, pacientes e famílias. Hoje a regulamentação brasileira permite seu uso em alguns casos, porém ainda existem barreiras de custo, acesso e protocolos padronizados. No entanto, de fato o canabidiol pode ser um aliado, desde que usado de forma ética, responsável e centrada na pessoa”, conclui.

Sobre a pesquisadora
A Dra. Thamirys Andrade Ferreira de Oliveira Ribeiro é médica especialista em Geriatria e Cuidados Paliativos, com experiência em instituições de referência como a Unimed Cuiabá e o Hospital do Câncer de Mato Grosso, onde atuou como preceptora na residência médica de Clínica Médica. Atualmente é professora da pós-graduação em Cuidados Paliativos da Universidade de Cuiabá (UNIC) e desenvolve pesquisas sobre terapias inovadoras em contextos de vulnerabilidade.