
No fim da tarde de domingo, à medida que a rotina da semana começa a ser planejada, é usual que algumas pessoas sintam um leve desconforto. Os pensamentos se voltam para as tarefas dos próximos dias, e o estado de atenção aumenta mesmo antes do início da segunda-feira.
O desconforto costuma se repetir semanalmente. Em alguns casos, aparece como irritação, dificuldade para dormir ou sensação de tensão. Com o tempo, o domingo deixa de ser associado ao descanso e passa a ser marcado pela preparação para os compromissos da semana.
No Brasil, esse tipo de sofrimento não é incomum. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros vivem com algum transtorno de ansiedade. E, embora essa sensação no domingo não configure necessariamente um transtorno, especialistas alertam que é preciso ficar atento aos sinais.
“A ansiedade de domingo, frequentemente descrita como uma sensação de angústia ou aperto no peito, é um exemplo de ansiedade antecipatória”, explica o psicólogo André Sena, que atende no Rio de Janeiro.
Ele destaca que esse tipo de sensação ativa o sistema nervoso simpático, provocando reações físicas como taquicardia, tensão muscular e sudorese.
Por que a ansiedade aparece no domingo à noite
O domingo marca a transição entre o descanso e a retomada das responsabilidades. Para muitas pessoas, esse contraste gera desconforto, especialmente quando há cobranças acumuladas ou expectativas em relação à nova semana.
“Esse momento marca o fim do tempo de descanso e liberdade, trazendo o retorno às responsabilidades, prazos e expectativas”, afirma Sena.
Além disso, o domingo à noite costuma ser um momento de reflexão sobre o que passou e o que está por vir. Pensamentos sobre tarefas acumuladas ou semanas difíceis podem amplificar o mal-estar.
Dalila Stalla, coordenadora de Psicologia da Rede Casa no Rio de Janeiro, aponta que o mal-estar está diretamente relacionado à forma como enxergamos o trabalho e nossas obrigações.
“A ansiedade de domingo mostra que, para muita gente, o trabalho é visto como algo estressante e cheio de cobranças. Só de pensar na segunda-feira, a pessoa sente desconforto”, afirma Dalila.
Esse desconforto não é exclusivo de adultos. Jovens e adolescentes também relatam sintomas semelhantes, embora por motivos diferentes, geralmente ligados à escola ou às relações sociais. Irritação, tristeza, insônia e dores físicas estão entre os sinais mais comuns nesse grupo.
Do ponto de vista clínico, alguns perfis são mais propensos a sentir esse tipo de ansiedade. Pessoas com traços de perfeccionismo, autocrítica elevada ou necessidade constante de controle podem apresentar maior dificuldade em lidar com transições e incertezas.
Em certos casos, o sentimento de desconforto no domingo também pode estar associado a transtornos como depressão, transtorno de ansiedade generalizada ou fobia social, mesmo que os sintomas surjam apenas de forma pontual no fim do dia.
Quando a ansiedade merece atenção profissional
Sentir desconforto no domingo à noite é comum, mas quando os sintomas se repetem com frequência, atrapalham o sono ou afetam o humor no início da semana, é importante ficar atento.
Se a ansiedade começa a comprometer relações pessoais, desempenho no trabalho ou leva ao uso de álcool ou outras drogas como forma de alívio, vale a pena procurar ajuda profissional. O mesmo se aplica para casos em que a preocupação se estende para outros dias e interfere no descanso do fim de semana.
“Quando essa sensação de angústia ou aperto no peito se torna mais intensa ou dura além de algumas horas, atrapalhando o sono ou deixando você irritado e sem energia no início da semana, é hora de procurar um psicólogo”, orienta Sena.
Estratégias para lidar com a ansiedade no domingo
Pequenos ajustes na rotina podem aliviar o desconforto típico do fim do domingo. Manter horários de sono regulares, planejar a semana com antecedência e evitar deixar tudo para a noite ajudam a reduzir a tensão.
Atividades simples como caminhar, cozinhar ou desenhar funcionam como formas de relaxamento. Diminuir o tempo nas redes sociais e praticar técnicas de respiração também contribuem para um estado mais calmo.
“Fazer exercícios de respiração rápida, dedicar um tempo a atividades manuais e caminhar com atenção ao que está ao redor já ajuda bastante”, diz Dalila.
Rever a relação com o trabalho e com a ideia de produtividade constante também é importante. Segundo Sena, expectativas irreais e pressão por desempenho dificultam o descanso e alimentam a ansiedade.
FONTE: METROPOLES