Brasileiros confiam mais nas igrejas do que em instituições democráticas

Levantamento apontou que a maior parte dos entrevistados confia em instituições cristãs, sejam elas evangélicas ou católicas. Por outro lado, desconfiança é alta em partidos políticos, Congresso Nacional e STF

- Igreja evangélica foi aprovada pela maior parte dos entrevistados na pesquisa. Foto: Divulgação / Prefeitura de Gravatá

Por Rodrigo Araujo

Uma pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta semana, constatou que brasileiros continuam confiando mais em instituições de fé, como igrejas, e nas forças de segurança, como Polícia Militar e Forças Armadas, do que em instituições democráticas, como partidos políticos, Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).

O levantamento apontou que a maior parte dos entrevistados confia nas igrejas cristãs, sejam elas evangélicas ou católicas. Entre as instituições evangélicas, o nível de confiança ficou em 65%. Já na católica, 73%.

No caso das igrejas evangélicas, a desconfiança ficou em 32%. Segundo Felipe Nunes, CEO da Quaest, ela aumentou especialmente entre eleitores que votaram no presidente Lula (PT) na última eleição. “E essa mudança de percepção piorou entre 2024 e 2025, já neste governo Lula 3”, pontuou em postagem no X (antigo Twitter).

Já entre as forças de segurança, a instituição mais bem avaliada pelos entrevistados foi a PM, aprovada por 71%, seguida pelas Forças Armadas (70%).

“Para muitos, a fé é a última esperança; a Igreja, um abrigo espiritual e de amparo emocional. Já a polícia e os bombeiros são acionados em momentos de desespero, quando todas as outras portas se fecharam”, ressalta o pastor da Igreja Batista do Braga, em Cabo Frio (RJ), Eldo Ferreira, pós-graduado em Teologia, Filosofia e História.

“Esse padrão revela mais do que uma preferência: mostra onde o brasileiro encontra amparo real. A confiança, que já nasceu em tempos passados do discurso, se baliza hoje no que é concreto, real. E, nesse cenário, as instituições de fé e força continuam sendo, para muitos, a única resposta possível, enquanto as instituições democráticas se mostram ausentes, pelas disputas de manutenção do poder”, completou.

Desconfiança maior em instituições democráticas

Por outro lado, partidos políticos foram as instituições com maior índice de reprovação entre os ouvidos pelo levantamento: 63%. O Congresso Nacional foi reprovado por 52% dos entrevistados e o STF, por 47%.

“O resultado não surpreende, mas escancara uma ferida aberta: a descrença nas instituições que deveriam representar o povo. Enquanto partidos e representantes eleitos se veem envolvidos em escândalos recorrentes de corrupção, favorecendo interesses próprios e deixando os mais vulneráveis à margem, instituições como a Igreja e os serviços de segurança pública seguem sendo procuradas por quem não tem mais a quem recorrer”, afirma Ferreira.

No caso do STF, a desconfiança continua aumentando, mas mudou de lado, de acordo com o levantamento. Até 2023, a desconfiança era maior entre eleitores de Lula. Porém, após o ano passado, essa desconfiança aumentou entre eleitores de Bolsonaro e também chegou ao eleitor que se absteve no segundo turno das últimas eleições presidenciais.

Quem perdeu confiança nos dois lados foi o Congresso Nacional. Desde 2022, vem aumentando o grau de desconfiança no Legislativo nacional tanto entre eleitores de Lula como de Bolsonaro. Também é crescente o desgaste entre eleitores que não votaram em nenhum dos dois candidatos em 2022.

“Essa baixa e enviesada confiança nas instituições democráticas custa caro ao Brasil: aumenta o prêmio de risco, trava investimentos, amplia incerteza e abre espaço para experiências populistas e não democráticas”, afirmou Felipe Nunes, em sua conta no X.

A pesquisa apontou ainda que as igrejas evangélicas, a PM e as redes sociais são mais confiáveis para eleitores da direita. Já o presidente da República, a imprensa e o STF têm um nível de confiabilidade maior para eleitores da esquerda. “Ou seja, existe um viés de percepção claro entre os dois polos”, destaca Nunes.

Piora geral no grau de confiança institucional

Outro ponto relevante a se destacar na pesquisa Genial/Quaest é que foi constatada uma piora generalizada no grau de confiança institucional dos brasileiros nos últimos quatro anos. A desconfiança na PM, nas Forças Armadas e no Congresso Nacional aumentou 10 pontos nesse período. Já a desconfiança nos partidos políticos aumentou 9 pontos, no STF aumentou 7 e na imprensa 6 pontos.

Brasileiros confiam mais nas igrejas do que em instituições democráticas
Pastor Samuel Pereira Valério. Foto: Divulgação

Para o pastor e teólogo Samuel Pereira Valério, doutor em Ciências da Religião, as instituições estão perdendo sua legitimidade diante da sociedade, o que decorre de vários motivos. “Como cristão, penso que a Igreja perdeu sua credibilidade em virtude do envolvimento em casos de escândalo. Ainda que encontremos escândalos em outras religiosidades, o cristianismo não o aceita, tampouco a sociedade aceita que um cristão se envolva com corrupção e imoralidades de todo tipo”, afirmou.

Ele destaca ainda que a polarização política também tem enfraquecido a imagem das instituições públicas frente à sociedade. “A instabilidade política trouxe um clima polarizado, que divide o país em dois grupos principais, mas não alcança o impacto necessário para produzir algo significativo ao país. A classe política não cumpre as promessas feitas à população e, por esse motivo, perde a credibilidade”.

Na visão de Valério, o aumento da desconfiança nas instituições expõe a fragilidade da democracia brasileira. “É preciso recuperar a credibilidade, mas isso só ocorrerá quando, de fato, assumirmos nossas responsabilidades e vivermos de forma digna, segundo a Igreja em Atos 2:42-47. Essa Igreja caiu na graça do povo”, finaliza.

FONTE: ES BRASIL