
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou um procedimento investigatório para apurar denúncias registradas por pacientes de um médico-cirurgião plástico que atende em clínicas localizadas em bairros nobres de Belo Horizonte. O profissional, que soma mais de 100 mil seguidores nas redes sociais, é acusado por, ao menos, duas mulheres de negligência médica após cirurgias estéticas. Cada uma delas afirma ter gasto cerca de R$ 30 mil apenas com os procedimentos, realizados neste ano. Segundo os relatos, as complicações incluíram necrose da pele e feridas abertas.
Uma das mulheres, que pediu para não ser identificada, conta que veio de outro Estado para realizar a mastopexia (remodelação dos seios com prótese) e a lipoescultura, após ver o trabalho do médico nas redes sociais. Ao todo, os custos ultrapassaram R$ 40 mil, incluindo hospedagem, alimentação e deslocamentos. “Descobri que é só enganação. Logo no segundo dia, já vi que o meu peito estava com a cor estranha, escurecida, com indício de necrose. Nas consultas de retorno, o médico falava que estava normal e, após 18 dias, me mandou para casa. No entanto, depois disso, o peito chegou a abrir todo”, relata.
A paciente voltou a Belo Horizonte e precisou passar por uma nova cirurgia. No entanto, segundo ela, o quadro se agravou. “Depois foi o outro seio que piorou. É um sentimento de muita tristeza. Necrose acontece, mas, quando falamos desse médico, são muitos casos de problemas nas cirurgias”, afirma. A mulher diz que vai entrar com uma ação judicial contra o profissional.
Outra paciente, também ouvida pela reportagem, realizou a cirurgia em fevereiro e relata que, embora o procedimento nos seios tenha transcorrido sem intercorrências, sua barriga começou a apresentar sinais de necrose pouco depois da alta hospitalar. “Mandava fotos para ele, perguntava, e ele demorava dias para responder. Quando respondia, dizia que estava tudo ótimo, que era normal”, conta.
A paciente afirma que está há mais de um mês sem poder trabalhar. Ela é autônoma e aguarda a liberação de prontuário e laudo para acionar o seguro. “Eles não querem me passar os documentos. Só quero o reembolso e que minha barriga feche. Está um buraco muito grande. Dá revolta saber que ele continua atendendo como se nada tivesse acontecido”, afirma. Ela alega, ainda, que participa de um grupo com outras seis mulheres que relataram complicações semelhantes.
A reportagem procurou o cirurgião citado para que ele pudesse apresentar sua versão. Após a publicação da reportagem, ele enviou nota à reportagem dizendo que: “Com 18 anos de experiência e mais de 4.000 procedimentos realizados, sempre exerci a medicina com ética, transparência e total compromisso com a segurança dos meus pacientes. Sou membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e da American Society of Plastic Surgeons (ASPS), atuando em hospitais de referência e seguindo protocolos rigorosos em cada procedimento”.
O profissional investigado explicou que todos os procedimentos médicos podem ser influenciados por fatores individuais, como “predisposição genética e adesão aos cuidados pós-operatórios”. Ele finalizou a nota reforçando que os registros de ocorrências policiais – que embasam parte da apuração – correspondem apenas à versão do “comunicante em um procedimento apuratório, sem oportunidade de qualquer defesa ou contra-argumento, a princípio, da parte citada”, argumenta.
Conforme a Polícia Civil de Minas Gerais, a investigação está em andamento e outras informações poderão ser prestadas em momento oportuno.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC), citada pelo profissional, disse em nota que “eventuais apurações internas instauradas pela SBCP para avaliar condutas de seus membros tramitam sob sigilo processual” e que “não cabe à SBCP o acompanhamento de processos judiciais ou investigações policiais instauradas contra médicos, sendo de competência do Poder Judiciário a apuração da responsabilidade cível e criminal dos profissionais acusados de má prática”. O órgão garantiu seguir rigorosamente as determinações dos órgãos fiscalizadores competentes.
FONTE: O TEMPO