Websérie resgata obra e história de duas compositoras pioneiras da música erudita capixaba

O lançamento presencial da websérie será realizado no Instituto Marlin Azul com apresentação dos episódios e recital de peças durante evento aberto e gratuito

Foto: Pianista Gabriel Guerra -

Apesar da reconhecida tradição da música erudita do Espírito Santo, duas compositoras capixabas pioneiras no ensino, na criação, na produção e na difusão desta arte no estado e no País permanecem pouco conhecidas para o público. A websérie “Paisagem para Piano” quer valorizar a obra, a história e a memória das compositoras Lycia De Biase Bidart (1910 – 1991) e Terezinha Dora de Abreu Carvalho (1936 – 2017). O lançamento aberto e gratuito acontecerá na próxima quinta-feira (08/05), às 19h, na sede do Instituto Marlin Azul, em Jardim da Penha (Vitória – ES), e contará ainda com recital de peças compostas pelas autoras.

Com codireção de Adriana Jacobsen e Bruno Zorzal, a websérie composta por quatro episódios, com duração entre 8 e 10 minutos, oportunizará ao público conhecer momentos marcantes das duas biografias e ouvir obras das autoras interpretadas por dois jovens pianistas estudiosos da criação e da trajetória das capixabas. Os episódios, com direção musical de Cláudio Thompson, mesclam aulas de piano preparatórias para a gravação, depoimentos dos pianistas e do diretor musical sobre as autoras e suas obras, e a apresentação das peças musicais na Casa da Música Sônia Cabral. O projeto apresenta o resultado de anos de estudos e pesquisas em torno dos manuscritos confiados aos músicos pelas próprias autoras ainda em vida.

Contemplada em 2023 pelo Edital de Seleção de Projetos de Produção de Conteúdos Digitais (Projeto de Produção de Obra Seriada), da Secretaria da Cultura (Secult-ES), com recursos da Lei Paulo Gustavo/Ministério da Cultura/Governo Federal, “Paisagem para Piano” é uma realização da Monazita em parceria com o Instituto Marlin Azul.

Na websérie, Tayná Lorenção interpreta “Nasce uma Flor”, no primeiro episódio, e “Britando Pedra no Morro Azul”, no segundo episódio, composições de Lycia De Biase Bidart. Gabriel Guerra interpreta “Minha Santa Catarina”, no terceiro episódio, e “Chorinho” e “Velha Canção”, no quarto episódio, composições de Terezinha Dora Abreu de Carvalho. No intervalo entre as apresentações, a partir de entrevistas, os jovens pianistas comentam as músicas, a formação, as características artísticas e a atuação das compositoras no contexto histórico de vida e de trabalho na primeira e na segunda metade do século XX.

Após o lançamento presencial no Instituto Marlin Azul, os episódios serão disponibilizados gratuitamente no institutomarlinazul.org.br, ampliando o contato das pessoas com o legado de Lycia De Biase Bidart e de Terezinha Dora de Abreu Carvalho, influenciadoras de educadores e compositores contemporâneos. O objetivo do projeto é valorizar o trabalho destas pioneiras da música capixaba que alcançaram reconhecimento nacional e possibilitar o registro audiovisual de peças históricas criadas pelas artistas, promovendo uma reflexão em torno da arte e da cultura na construção da realidade.

As compositoras homenageadas

A compositora capixaba Terezinha Dora Abreu de Carvalho (1936-2017) iniciou seus estudos em música em Vitória, no Espírito Santo, e mudou-se para o Rio de Janeiro a fim de dar continuidade a sua formação. Estudou na Escola Nacional de Música (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ), graduou-se no curso de Composição, e, posteriormente, se especializou em Harmonia e Morfologia pelo Conservatório Brasileiro de Música. Anos mais tarde, veio a lecionar na Escola Estadual de Música do Espírito Santo (EMES) – atual Faculdade de Música do Espírito Santo (FAMES).

Atuou também na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), elaborando o primeiro Programa de Música da instituição, estimulando a pesquisa na área da preservação da música folclórica como patrimônio cultural capixaba. A partir da criação deste programa, viabilizou o surgimento de diversos projetos culturais importantes para a universidade, dentre eles: a “Bandinha Rítmica Infantil”; o “Conjunto Regional Universitário”; o “Grupo dos Chorões”; e o “Coral da Universidade Federal do Espírito Santo”.

Elaborou também o “Salão do Compositor Capixaba”, evento com mais de dez edições, em que se oportunizava a divulgação de obras originais de artistas locais de música erudita e popular, a fim de fomentar as atividades de criação musical por artistas naturais do estado. Como compositora e arranjadora, é autora de obras para canto e instrumentos diversos. Entusiasta da música espírito-santense, Terezinha Dora sempre ratificou a importância de valorizar a produção capixaba. Sua trajetória é extensa, e está inscrita na riqueza de suas composições, carregadas de afeto e de sua própria história.

Lycia De Biase Bidart  (1910–1991) foi uma pianista, regente e compositora capixaba de atuação marcante na cena musical brasileira do século XX. Com um legado de cerca de 400 obras para diversas formações, sua trajetória despontou cedo: aos 11 anos participou de seu primeiro recital e, aos 20, estreou um prelúdio sinfônico no Theatro Lyrico do Rio de Janeiro. Nos anos 1930, atingiu o auge da carreira, atuando como pianista, regente e compositora em prestigiados concertos. Entre suas obras de destaque está o poema sinfônico “Chanaan”, inspirado nas narrativas de imigração italiana no Espírito Santo e nas paisagens do Vale do Rio Doce. Após um período de intensa atividade pública, Lycia recolheu-se à vida familiar, mas seguiu compondo.