
Nos últimos 20 anos, o mapa econômico do Espírito Santo mudou de forma significativa. O indicador que mede a participação dos municípios na arrecadação do ICMS — o Valor Adicionado Fiscal (VAF) — mostra uma virada histórica: a capital, Vitória, perdeu protagonismo, enquanto o interior avançou com força, puxado pela indústria, pelo agronegócio e, sobretudo, pelas cadeias de petróleo, celulose e mineração.
Anchieta e Linhares despontam
Anchieta, impulsionada pelo Porto de Ubu e pela atividade da Samarco, tornou-se um dos principais polos de crescimento econômico do Estado. Linhares, com a presença da Suzano, a agricultura diversificada e a produção de petróleo na costa, também figura entre os grandes vencedores.
Aracruz consolidou-se como potência da celulose, enquanto Serra e Cariacica, na Grande Vitória, viram seus parques industriais e logísticos multiplicarem a fatia de participação no bolo do ICMS.
Vitória em queda livre
Se por um lado o interior cresceu, por outro Vitória encolheu. A capital, que concentrava boa parte da atividade econômica no início dos anos 2000, perdeu espaço com a migração de indústrias para municípios vizinhos e hoje depende cada vez mais de serviços e do setor portuário. O VAF da cidade caiu quase pela metade nesse período.
Cachoeiro de Itapemirim também aparece entre os que mais perderam. O setor de rochas ornamentais, antes carro-chefe da economia local, perdeu competitividade no mercado externo e afetou diretamente a arrecadação municipal.
Interiorização da economia
O movimento revela uma interiorização da riqueza capixaba. Municípios como São Mateus, Colatina, Jaguaré e São Gabriel da Palha ganharam relevância ao diversificar suas bases econômicas — do agronegócio às indústrias de transformação. Já cidades do Caparaó, mais dependentes da agricultura tradicional, perderam espaço relativo.
O que está em jogo
Essa reconfiguração do ICMS tem impacto direto nas finanças públicas. Como a cota-parte do imposto é a principal fonte de receita para muitos municípios, quem cresce no VAF amplia sua capacidade de investimento em saúde, educação e infraestrutura. Já os que perdem, enfrentam desafios crescentes para manter serviços básicos e financiar políticas públicas.
Especialistas avaliam que o Estado precisa buscar equilíbrio: apoiar setores tradicionais em dificuldade, como rochas e turismo, e ao mesmo tempo investir em inovação, tecnologia e logística, para manter a competitividade do Espírito Santo nas próximas décadas.