
A procura por alternativas para retardar os sinais do tempo movimenta um mercado bilionário e influencia hábitos de consumo no mundo inteiro. Mas, antes de chegar às prateleiras, a promessa de uma pele mais resistente ao envelhecimento passa, cada vez mais, pelo crivo da pesquisa científica. Um novo estudo da Ufes avança justamente nesse ponto ao identificar compostos naturais capazes de atuar em vias biológicas associadas ao envelhecimento cutâneo.
O trabalho, conduzido por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec) e do Biotecnologia-Renorbio/Ufes, analisou a ação de quatro substâncias já conhecidas pela comunidade científica — astaxantina, curcumina, quercetina e resveratrol —, mas agora sob uma nova perspectiva: como elas modulam genes e processos diretamente ligados à senescência da pele. O estudo foi liderado pelos professores Débora Meira e Iúri Drumond, do Núcleo de Genética Humana e Molecular, em parceria com o professor Elizeu Fagundes, da Uerj.
A equipe avaliou os compostos por meio de análises in silico, que permitem simular, via softwares de bioinformática, como moléculas interagem com proteínas e caminhos celulares. A partir dessas simulações, os pesquisadores mapearam vias associadas à inflamação, ao estresse oxidativo e ao envelhecimento.
Segundo Meira, as substâncias apresentaram potencial de modular genes como IL-6, TNF-α, TAB1 e TP53, além de atuarem na via KEAP1-NRF2 — considerada fundamental para a proteção celular diante da ação de radicais livres. “São compostos com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes capazes de influenciar mecanismos diretamente ligados à integridade da pele”, explica.
Ela destaca que os resultados reforçam a possibilidade de aplicação desses bioativos tanto em formulações cosméticas quanto em terapias orais, abrindo caminho para pesquisas que buscam soluções mais eficazes para a saúde da pele.
O trabalho contou também com a participação dos estudantes Débora Barbosa, Karen Barbosa, Yasmin Guaitolini, Matheus Casotti, Rahna da Cruz, Lorena Altoé e Isabele Pavan.
Os compostos analisados e onde encontrá-los
A pesquisa detalhou quatro substâncias presentes em alimentos comuns no Brasil:
Astaxantina – encontrada em salmão selvagem, truta vermelha, camarão, lagosta, caranguejo, óleo de krill e microalgas usadas em suplementos. É considerada um antioxidante extremamente potente.
Curcumina – presente na cúrcuma (açafrão-da-terra), em misturas de curry e bebidas funcionais. Possui propriedades anticâncer e neuroprotetoras.
Quercetina – encontrada em cebola roxa, brócolis, couve, alcaparras, maçã, uvas, mirtilo, amora, cranberry e nos chás verde e preto. Tem ação antioxidante e antiviral.
Resveratrol – presente em uvas pretas, vinho tinto, cacau, chocolate amargo, amendoim e frutas vermelhas. É associado à proteção cardiovascular e à longevidade.
Próximos passos da ciência
Embora o estudo avance na compreensão dos mecanismos envolvidos no envelhecimento da pele, os pesquisadores destacam que as análises in silico representam uma etapa inicial. Novas pesquisas, agora em laboratório e posteriormente em aplicações clínicas, serão necessárias para confirmar o potencial e definir formas de uso dos bioativos.
FONTE: ES 360
