Robert Prevost é eleito papa Leão XIV: um retorno ao passado com olhos no futuro

Cardeal norte-americano assume o papado aos 69 anos, representando equilíbrio entre tradição e renovação na sucessão de Francisco

Cardeal Robert Presvot em sua primeira aparição como Papa Leão XIV. -

A fumaça branca que saiu da chaminé da Capela Sistina no fim da tarde desta quinta-feira (8 de maio) anunciou ao mundo o fim do conclave e a eleição do novo líder da Igreja Católica. Cerca de uma hora depois, do alto da sacada central da Basílica de São Pedro, o cardeal protodiácono proclamou:

“Annuntio vobis gaudium magnum: habemus Papam! Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum Robertum Franciscum, Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem Presvot, qui sibi nomen imposuit Leonem Quartum Decimum (“Eu vos anuncio uma grande alegria: temos o Papa! É o eminentíssimo e reverendíssimo Senhor, Senhor Robert Francis, cardeal da Santa Igreja Romana, Presvot, que escolheu o nome de Leão Décimo Quarto“).

O novo pontífice é o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, ex-prefeito do Dicastério para os Bispos, nascido em Chicago, EUA, com larga experiência pastoral e missionária no Peru. Ao adotar o nome Leão XIV, o novo papa invoca uma tradição milenar da Igreja, evocando figuras históricas como Leão I, o Grande, e Leão XIII, conhecido por seu esforço de modernizar a doutrina social da Igreja no século XIX.

Um nome carregado de simbolismo

A escolha do nome Leão não acontecia desde 1878, quando Gioacchino Pecci se tornou Leão XIII. A decisão de Prevost retoma uma linhagem de papas tradicionalmente marcados por forte liderança doutrinária e diálogo com o mundo político de seu tempo.

Leão I, do século V, enfrentou ameaças ao Império Romano e defendeu a primazia de Roma em termos teológicos e institucionais. Já Leão XIII, mais recente, foi o autor da encíclica Rerum Novarum (1891), documento que lançou as bases da doutrina social da Igreja, posicionando o Vaticano em temas como justiça social, direitos dos trabalhadores e a relação entre capital e trabalho — assuntos que ainda ressoam fortemente no pontificado de Francisco e devem ter continuidade, com nuances próprias, em Leão XIV.

Entre pioneirismo e continuidade

A eleição de Leão XIV representa um momento histórico: é a primeira vez que um norte-americano é eleito papa, algo impensável até poucas décadas atrás, dada a centralidade tradicional da Europa nos assuntos vaticanos. A escolha reflete o crescente protagonismo da Igreja nas Américas e pode ser vista como uma abertura ao dinamismo pastoral das igrejas locais fora do eixo europeu.

Apesar disso, Prevost representa uma linha moderada e tradicional, com profundo enraizamento teológico e espírito de missão. Sua longa atuação como missionário agostiniano no Peru o conecta às realidades do Sul Global, aproximando-o do estilo pastoral de Papa Francisco, a quem sucede.

Ao mesmo tempo, sua escolha de um nome associado à autoridade e à doutrina sugere que Leão XIV poderá adotar um tom mais firme na reorganização interna da Cúria e na condução de temas sensíveis como a formação episcopal, a sinodalidade e os debates sobre moral sexual e ordenação feminina, mantendo uma linha de continuidade crítica com o pontificado anterior.

Um novo ciclo no Vaticano

A eleição de Leão XIV ocorre em um contexto de grandes transformações: após a renúncia de Bento XVI em 2013 e o longo pontificado de Francisco, iniciado no mesmo ano, a Igreja vive um momento de transição geracional e geográfica. A presença forte de cardeais latino-americanos e estadunidenses no conclave, e o reconhecimento de Prevost como alguém com grande experiência missionária e de governo faz parecer que para sua escolha, os cardeais buscaram alguém capaz de unir o espírito reformador de Francisco a uma condução mais estruturada da doutrina, em meio às tensões internas entre progressistas e conservadores.

A comunidade católica global agora aguarda os primeiros sinais de seu pontificado e ficam algumas perguntas: Quem serão os seus colaboradores mais próximos? Quais temas ganharão destaque nas primeiras falas e documentos? E como o novo Leão do Vaticano responderá aos desafios do século XXI?