Revolta em UPAs e hospitais expõe falta de pediatras. Veja números

Casos de confusão, brigas e até de depredação em unidades públicas têm se tornado frequentes. Famílias cobram atendimento para crianças

Material cedido ao Metrópoles -

A revolta de pacientes em busca de atendimento para crianças em hospitais e unidades de pronto atendimento (UPAs) é um sintoma do déficit de pediatras da rede pública do Distrito Federal. Segundo o Sindicato dos Médicos do DF (SindMédicos), faltam 172 pediatras no quadro da Secretaria de Saúde do DF. A pasta conta 445 profissionais especializados no tratamento infanto-juveni

De acordo com o sindicato, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF), responsável pelas UPAs e pelos hospitais de Base e o de Santa Maria (HRSM), tem apenas 168 pediatras no quadro de profissionais.

Na avaliação do sindicato, o número de pediatras está em queda franca na capital federal. Em 2014, a Secretaria de Saúde tinha 684 profissionais da área. No fim de 2019, eram 541. Chegando a 445 em abril de 2025. Uma redução de 35% no quadro.

Sem condições adequadas de trabalho nos hospitais públicos, pediatras não aceitam ingressar nos quadros da pasta. Entre 2018 e 2025, 603 pediatras foram nomeados para a secretaria, mas somente 124 acabaram admitidos.

Por regra, os pacientes deveriam ficar, no máximo, 24 horas nas UPAs, que não têm perfil de internação. Porém, a regra não é respeitada, o que acaba sobrecarregando o sistema e o plantão da equipe de saúde. Consequentemente, aumenta-se a demora de novos atendimentos.

Doenças respiratórias

Com o passar das semanas, o número de crianças entre 29 dias de vida e menos de 3 anos adoecidas aumenta exponencialmente. Na 1ª semana do ano, foram registradas aproximadamente 307 ocorrências. Na 14ª semana, a quantidade saltou para 1.852 casos. Ou seja, são seis vezes mais pacientes em busca de tratamento.

Segundo o painel de síndromes gripais do Sistema InfoSaúde, entre a 1ª e a 14ª semana de 2025, ocorreram 85.791 atendimentos por síndromes gripais na rede pública de saúde. Desse total, 15.756 foram de crianças de 29 dias a 3 anos de idade.

Segundo o presidente do SindMédico, Guttemberg Fialho, o déficit de profissionais se deve às péssimas condições de trabalho e à remuneração, que não é condizente com o mercado de trabalho.

“Temos quase 2 mil pediatras com registro ativo no Conselho Regional de Medicina do DF (CRM-DF). Não faltam médicos no mercado, falta no serviço público de saúde, porque não há uma política adequada de gestão para valorização do médico e fixação dele no serviço público. Todos perdem e sofrem nessa situação”, explicou.

Para Fialho, é fundamental que seja feita uma reformulação no plano de carreira, cargos e salários dos médicos. Depois disso, realizar novo concurso público, com a contratação de número expressivo de médicos, para adequar a quantidade de profissionais à demanda de cada unidade de saúde.

“Não adianta mandar dois ou três médicos para onde faltam 10 ou 15”, argumentou. Na avaliação do sindicato, a tentativa de contratos temporários feita pela Secretaria de Saúde não é o caminho para a solução do déficit. A pasta planejava contratar 175 profissionais temporários. Mas só conseguiu 38.

Outro lado

Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde e com o Iges-DF a fim de questionar a falta de pediatras. O espaço segue aberto para manifestações.

FONTE: METRÓPOLES