
Enquanto o calendário oficial das eleições de 2026 marca o início da campanha apenas para agosto do ano que vem, o cenário político no Espírito Santo já pulsa com articulações, agendas intensas no interior e declarações públicas de pré-candidatos. De olho em vagas no Senado e no Palácio Anchieta, diversos nomes da política local começaram a marcar território — o que levanta a pergunta: estariam “queimando a largada”?
Para o analista político Darlan Campos, a resposta é mais complexa do que um simples “sim” ou “não”. “Na política, ninguém chega ao poder ou alcança os seus objetivos sem intencionalidade. Isso significa que, se alguém deseja ser governador ou senador, precisa dar passos nesse sentido”, explica.
Segundo Campos, o movimento atual é menos uma imprudência e mais uma etapa estratégica. “Eles não estão queimando a largada. Estão buscando se posicionar para uma decisão final que só virá no ano que vem. Muita água ainda vai rolar, mas os atores com potencial competitivo precisam se viabilizar desde já”, aponta.
Pré-campanha: terreno legítimo
Desde a chamada “minirreforma eleitoral” de 2017, a legislação passou a permitir ações de pré-campanha com mais clareza. Pré-candidatos podem se apresentar publicamente, defender ideias, criticar adversários e até participar de eventos — desde que respeitem limites como a proibição de pedir votos de forma explícita ou de usar recursos públicos ou do fundo partidário fora do período eleitoral.
“Com a diminuição do tempo de campanha de 90 para 45 dias, a pré-campanha passou a ser essencial. A eleição só se inicia oficialmente em agosto, mas a construção da candidatura começa muito antes”, afirma o analista.
Riscos no caminho
Apesar da legalidade do posicionamento antecipado, os cuidados precisam ser redobrados. “O que pode caracterizar abuso de poder econômico, uso indevido de meios de comunicação ou propaganda antecipada pode levar à inelegibilidade”, alerta o advogado Vitor Coelho, ouvido pela reportagem.

Em outras palavras, o momento é propício para plantar, mas o cultivo exige estratégia, responsabilidade e conhecimento das regras.
Vaga garantida? Nem sempre
Darlan Campos também ressalta que nem toda intenção se transforma em candidatura competitiva. “O processo da intencionalidade é fundamental, mas se tornar um nome viável depende de outros fatores: apoio político, aceitação popular, estrutura partidária e recursos para campanha.”
Nos bastidores da política capixaba, nomes tradicionais e novos postulantes já se movimentam, de forma mais ou menos discreta. Seja com visitas a municípios, reuniões partidárias ou aumento de presença nas redes sociais, a corrida por visibilidade já começou — mesmo que o ponto de largada oficial ainda esteja distante.
No Senado, por exemplo, o ex-candidato ao Governo do Estado, Carlos Manato, se movimenta para viabilizar a candidatura. O atual governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, do PSB, já fala abertamente do caminho natural ao Senado.
Já na disputa pelo Palácio Anchieta, o nome de Ricardo Ferraço, do MDB, é tratado como sucessão natual de Casagrande, com o vice-governador ganhando cada vez mais destaque nas entregas do Governo. O provável adversário, o prefefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, do Republicanos, já tem cumprido agenda no interior do estado e intensificado conversas com lideranças políticas.
A aceleração dos movimentos eleitorais em 2025 não é novidade, mas também não está isenta de controvérsias. “O poder nunca fica vago. Quem não se posiciona, perde espaço”, resume Campos. E em um cenário onde o tempo de campanha encolheu e a atenção do eleitor está cada vez mais disputada, a pré-campanha se consolida como fase decisiva — e perigosa — para quem almeja governar.
FONTE: ES BRASIL