Quatro acusados são condenados a 592 anos de prisão por assassinatos em Vitória

Caso aconteceu em setembro de 2020 e deixou quatro mortos. Réus vão responder por homicídio e tentativa, associação ao tráfico e corrupção de menores. Condenação ainda cabe recurso.

Foto: Reprodução/TV Gazeta -

Os quatro réus denunciados por participação na morte de quatro jovens em Vitória, em setembro de 2020, foram condenados pela Justiça na madrugada desta quarta-feira (16) após mais de 27 horas de julgamento. O caso ficou conhecido como “Chacina da ilha”. A condenação ainda cabe recurso.

Os quatro homens foram condenados por homicídio, tentativa de homicídio, associação ao tráfico e corrupção de menores. Juntas, as penas somam 592 anos de prisão a serem cumpridas em regime fechado.

Foram condenados os réus Felipe Domingos Lopes, conhecido como “Cara de Boi” ou “Boizão”; Victor Bertholini Fernandes, o “Vitinho”; Werick Sant’Ana dos Santos da Silva, o “Mamão”; e Adriano Emanoel de Oliveira Tavares, apelidado de “Balinha” ou “Bamba”.

Os envolvidos já estavam presos preventivamente a pedido do Ministério Público. Além da prisão, eles foram condenados ao pagamento salários mínimos para as famílias das vítimas, conforme pedido pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) durante o júri.

Os condenados deverão pagar 100 salários mínimos para a família de cada vítima de homicídio consumado, bem como 50 salários mínimos para cada vítima de homicídio tentado.

A Chacina da Ilha vitimou seis pessoas, Pablo Ricardo Lima Silva, de 21 anos; Wesley Rodrigues Souza, de 29; Yuri Carlos de Sousa Silva, de 23; e Vitor da Silva Alves, de 19. Outros dois jovens foram baleados, mas sobreviveram, segundo à polícia, devido a um erro de pontaria dos criminosos.

Quatro homens foram mortos na Chacina da Ilha em Vitória, Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta

De acordo com a investigação policial, o crime foi cometido por membros de uma facção criminosa da região conhecida como Morro do Quiabo, em Porto de Santana, em Cariacica.

As defesas de todos os envolvidos recorreram contra a decisão (veja o posicionamento dos advogados no final da reportagem).

O julgamento

O julgamento começou na manhã de segunda-feira (14) e chegou a ser suspenso temporariamente por cerca de três horas por uma falta de energia no Fórum Criminal de Vitória no primeiro dia. A decisão foi proferida à 1h da madrugada de quarta-feira.

Ao longo do julgamento, o Ministério Público, por meio dos promotores de justiça Rodrigo Monteiro e Bruno de Oliveira, sustentou as provas que levaram à condenação dos réus.

“O Ministério Público reitera o compromisso de lutar em favor da vida. Crimes dessa natureza, que abalaram não apenas a comunidade de Santo Antonio, mas toda nossa cidade e nosso Estado, jamais ficarão impunes. Hoje encerra-se o velório das famílias enlutadas”, afirmou o promotor de justiça Rodrigo Monteiro após a condenação.

As penas individuais foram as seguintes:

  • Felipe Domingos Lopes: condenado por quatro homicídios consumados triplamente qualificados, dois homicídios tentados triplamente qualificados, associação armada para o tráfico de drogas e corrupção de menores. Pena: 178 anos.
  • Victor Bertholini Fernandes: condenado por quatro homicídios consumados triplamente qualificados, dois homicídios tentados triplamente qualificados e associação armada para o tráfico. Pena: 154 anos e 8 meses.
  • Werick Sant’Ana dos Santos da Silva: condenado por quatro homicídios consumados triplamente qualificados, dois homicídios tentados triplamente qualificados, associação armada para o tráfico de drogas e corrupção de menores. Pena: 140 anos, 9 meses e 10 dias.
  • Adriano Emanoel de Oliveira Tavares: condenado por quatro homicídios consumados triplamente qualificados, dois homicídios tentados triplamente qualificados, associação armada para o tráfico de drogas e corrupção de menores. Pena: 119 anos, 4 meses e 6 dias.

O MP destacou que os crimes foram considerados ainda mais graves porque, conforme a denúncia, foram praticados por motivo torpe, vinculado à guerra do tráfico de drogas, mediante o uso de meios que dificultaram a defesa das vítimas e praticados por meio cruel.

Ilha Doutor Américo Oliveira em Vitória, Espírito Santo, local onde quatro jovens foram assassinados em 2020 — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Outras duas pessoas foram acusadas de participação no crime, mas como na época eram menores de idade, a dupla recebeu uma medida socioeducativa de internação.

“A condenação dos quatro réus pelos homicídios que marcaram a ‘chacina da ilha’ representa uma resposta firme do Ministério Público do Estado do Espírito Santo à barbárie, reafirmando nosso compromisso com a justiça, a defesa da vida e o enfrentamento à impunidade”, salientou o Promotor de Justiça Bruno de Oliveira.

Mônica de Souza, mãe da vítima Yuri, acompanhou o julgamento e disse que a justiça foi feita.

“Foram dois dias bem cansativos, graças a Deus a justiça do homem foi feita. Agora é seguir com o coração em paz, mesmo sabendo que o luto será eterno”, comentou.

O que diz a defesa

Depois dos disparos, equipes da PM e do Samu foram enviadas de helicóptero ao local — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O advogado de defesa de Adriano, Ailton Ribeiro, disse que vai pedir a anulação do julgamento.

“Provei nos autos que o Adriano embora estivesse no local, tentou evitar os crimes ligando para um dos contatos de uma das vítimas que ele conhecia, pra convencer os executores que eram pessoas do bem e não estavam envolvidas. Mas infelizmente, o Adriano não tinha voz ativa e quando encerrou a ligação, os executores começaram a atirar, mas ele mesmo, não efetuou nenhum disparo. Inclusive, a vítima sobrevivente e um dos acusados falam isso. Então, os jurados decidiram contrariamente às provas dos autos, vez que os depoimentos testemunhais, documentais e periciais, falam uma coisa e os jurados decidiram outra”, relatou.

Já a advogada Paloma Gasiglia, que faz a defesa de Victor, disse que também vai recorrer e que seu cliente foi absolvido apenas pelo crime de corrupção de menores.

g1 não conseguiu contato com os advogados de defesa de Werik e Felipe, mas informaram no local, após a condenação, que vão recorrer da decisão.

Relembre o caso

Os crimes ocorreram na Ilha Doutor Américo, conhecida como Ilha da Pólvora, no bairro Santo Antônio, em Vitória, na tarde do dia 28 de setembro de 2020.

Seis jovens estavam na praia quando segundo as investigações, foram confundidos com integrantes de uma facção criminosa rival.

Uma das vítimas se fingiu de morta para conseguir fugir dos assassinos. Depois, ele e mais uma vítima conseguiram correr depois dos tiros.

FONTE: PAULO RICARDO SOBRAL – G1