No Brasil de 2025, não basta mais perder eleição. Agora, opinar também virou crime ao menos quando a opinião desagrada à cartilha ideológica do Século Diário.
Segundo o jornal, o deputado federal Gilvan da Federal não exerceu um direito constitucional na Tribuna da Câmara de Vitória. Não. Ele teria cometido algo muito mais grave: pensado diferente.
A matéria tenta convencer o leitor de que a Tribuna Livre, prevista no regimento da Casa e protegida pela Constituição, virou uma espécie de confessionário penal, onde só pode falar quem repetir os dogmas corretos da esquerda identitária. Discordou? Pronto: “defesa de golpistas”. Simples assim. Sem contraditório, sem nuance, sem Direito.
A Constituição, esse detalhe incômodo
O artigo 53 da Constituição Federal é claro como água talvez clara demais para quem prefere enxergar o mundo em tons ideológicos:
deputados são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos.
Mas, para o Século Diário, Constituição é acessório. O que vale mesmo é a narrativa. Gilvan falou? Logo, está errado. Discordou do Judiciário? Atentado à democracia. Defendeu anistia? Golpismo. Questionou condenações? Extremismo.
Curioso como a liberdade de expressão é defendida com unhas e dentes quando serve para atacar conservadores e descartada com igual entusiasmo quando é exercida por eles.
Jornalismo ou tribunal revolucionário?
A matéria não informa. Acusa. Não contextualiza. Sentencia. Não apura. Enquadra.
Mistura processos eleitorais, ações criminais, decisões ainda recorríveis e episódios desconectados como se tudo fosse uma única e grande prova moral de culpa eterna. É a técnica clássica do jornalismo de linchamento simbólico: empilhe acusações, repita rótulos e confie que o leitor não fará perguntas.
Presunção de inocência? Direito de defesa? Trânsito em julgado? Tudo isso parece ter sido arquivado na mesma gaveta onde ficou a imparcialidade.
Dois pesos, duas conveniências
Quando parlamentares de esquerda usam tribunas para atacar instituições, incendiar discursos ou questionar autoridades, o Século Diário chama de “engajamento político” e “resistência democrática”.
Quando um parlamentar conservador faz exatamente o mesmo, vira “ameaça”, “golpe” e “extrema direita”.
Não é jornalismo. É militância com CNPJ.
A farsa da neutralidade
O texto tenta vestir a fantasia da objetividade, mas o figurino não convence. A escolha de adjetivos, o enquadramento dos fatos e a ausência deliberada de contrapontos deixam claro que o veredito já estava pronto antes da apuração começar.
O leitor não está diante de uma reportagem. Está diante de um panfleto ideológico com pretensão de verdade absoluta.
E o mais irônico? O jornal acusa Gilvan de atacar a democracia enquanto criminaliza o próprio debate político, pilar essencial de qualquer regime democrático saudável.
Democracia para poucos
A democracia defendida pelo Século Diário parece funcionar assim:
Pode falar, desde que pense como nós.
Pode discordar, desde que não nos confronte.
Pode existir, desde que não incomode.
Qualquer coisa fora disso vira caso de polícia moral.
No fim, o problema não é Gilvan
Gilvan da Federal pode agradar ou desagradar. Isso é irrelevante. O problema real é um jornal que confunde imprensa com partido político, reportagem com militância e informação com ativismo.
Hoje, o alvo é um deputado conservador. Amanhã, será qualquer cidadão que ousar atravessar a rua fora da faixa ideológica permitida.
E assim, sob aplausos seletivos, o jornalismo abandona sua função histórica e assume outra bem mais perigosa: a de tutor do pensamento aceitável.
A pergunta final permanece e queima:
Quem vigia a democracia quando o jornalismo decide abandoná-la?
