
Quem passar pelo bairro Santa Clara, pelo acesso ao Morro do Moscoso e pelo Barro Vermelho irá perceber um colorido diferente na paisagem dessas regiões de Vitória. Trata-se de um projeto de intervenção urbana desenvolvido pelo Coletivo de Cultura Cores que Acolhem, que acaba de entregar três murais artísticos, proporcionando novos significados a espaços que se encontravam degradados pelo tempo.
Intitulado “Cores Comunidades”, o projeto une cultura e educação por meio de pinturas artísticas de 500 m2, que revitalizam a Escadaria Santa Clara e os muros laterais da Escadaria do Moscoso, ambas no Centro de Vitória, além da Escadaria da Grécia, no bairro Barro Vermelho.
Selecionado pelo Edital de Projetos Lei Paulo Gustavo 2023 – Artes Integradas, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES), o projeto “Cores Comunidades” nasceu para atender aos inúmeros pedidos das comunidades, para que o Coletivo de Cultura Cores que Acolhem ampliasse o campo de atuação do projeto “Colorindo o Centro”. Realizada em 2022, a ação promoveu a pintura de mais de 2.560 m2 de murais que contam a história do Centro de Vitória, por meio de um edital da Prefeitura Municipal de Vitória.
Agora, em sua segunda edição, a iniciativa recebeu o nome de “Cores Comunidades” e teve como contrapartida a oferta de oficinas de pintura aos alunos com altas habilidades e superdotação da EMEF Álvaro de Castro Mattos, localizada em Jardim da Penha.
Integrantes do Grupo Porão a Sonhar, os estudantes participaram de duas oficinas, com 25 vagas e duração de quatro horas cada uma, onde acompanharam de perto o processo criativo e aprenderam novas técnicas de pintura, colaborando para o resgate da história e das memórias dos territórios atendidos.
A equipe de muralistas foi composta pela artista e ilustradora Thais Cordeiro e pelos artistas Renata Nunes e Israel Scárdua. O coordenador do Coletivo de Cultura Cores que Acolhem, Stefan Marques, explica que o projeto nasceu do desejo de levar luz e cor a ambientes de grande visibilidade e rotatividade de pessoas, aproximando o munícipe dos elementos da cultura e da história local. “Usamos o muralismo como forma de democratizar a cultura, criando espaços que venham a se tornar pontos de visitação e de interação na cidade”, comenta.
Escadaria da Grécia
Cada um dos murais foi pintado a partir de um processo de escuta dos membros do coletivo junto aos moradores. A proposta para a Escadaria da Grécia foi criada em conjunto com a Associação de Moradores do Barro Vermelho e a artista e moradora Celeneh, e traz para as paredes da escadaria uma vila grega com casas e onde a força do mar é celebrada através da figura do Deus grego “Poseidon”.
Os olhos gregos também não foram esquecidos e parecem flutuar pela estrutura da escadaria, com a prevalência de tons azuis e brancos, lembrando a bandeira da Grécia, numa homenagem à comunidade grega cuja presença se relaciona com a história do bairro.
Escadaria do Moscoso
Por sua vez, os muros laterais da escadaria do morro do Moscoso, no Centro de Vitória, ganharam cores que retratam a primeira fonte que abastecia a região, as primeiras lavadeiras da comunidade e o sapateiro Valdecir, que tornou a sapataria Toc conhecida em todo o Brasil.
A arte traz também uma homenagem à Dona Olga, figura muito querida pela comunidade e que fazia o catecismo das crianças da região. E o samba, presente no dia a dia do morro, está simbolizado em painéis pintados com as cores das escolas de samba Acadêmicos do Moscoso e Lira do Moscoso, que emocionaram os moradores.
Para desenvolver o mural, os artistas recolheram histórias sobre o território a partir do relato de lideranças comunitárias e moradores.
Escadaria Santa Clara
O mural da Escadaria Santa Clara também contou com a participação da comunidade local, que propôs uma homenagem à santa que dá nome ao local.
A partir da ideia original, os artistas transformaram o espaço num grande jardim de Santa Clara, com paredes repletas de pássaros e flores, além das figuras de São Francisco e de Santa Clara.
Na parede central, uma frase impactante de Santa Clara deixa uma linda mensagem aos que por ali passam: “Devo florir onde o Senhor me plantar”.
Vínculos sociais
Para Renata Nunes, responsável pela área artística do coletivo, o muralismo é uma vertente das artes que está diretamente relacionada aos mais diferentes estilos de vida e experiências das pessoas que o praticam. Além disso, é responsável por promover algo cada vez mais raro na sociedade contemporânea: a aproximação entre classes sociais distintas, incluindo as regiões centrais e periféricas, de modo a estabelecer vínculos culturais para além de territórios. “O reconhecimento do trabalho executado pelos muralistas, por parte dos munícipes, faz com que os murais se tornem atrativos turísticos, seja pela produção d e fotografias por quem visita a cidade ou por sua reprodução em diversos meios de comunicação”, observa.