
Um cenário paradoxal ilustra a atual situação da famosa Avenida Brigadeiro Faria Lima: em meio a arranha-céus que formam o maior centro financeiro do Brasil, há também milhares de pessoas em situação de rua. Localizada no bairro Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, a via pode ser considerada um retrato da desigualdade social do país.
Quem passa pela avenida não demora pra ver famílias acampadas. Entre homens em bandos, idosos e até famílias com crianças, o quadro é de pobreza e insegurança. Enquanto operadores do mercado financeiro, advogados e outros frequentadores do chamado “condado” adentram edifícios luxuosos, pessoas em situação de vulnerabilidade social vivem nas calçadas, sob sol ou chuva.
Grande parte desse público se concentra na região do Largo da Batata, próximo às entradas da estação Faria Lima da Linha 4 – Amarela do metrô. O local é cercado por bares, restaurantes e pequenos comércios. Policiais militares fazem patrulhamento diário no entorno e um posto da corporação foi implantado recentemente, mas ainda não foi ativado.
Quem faz das calçadas da Faria Lima um espaço improvisado para viver tem de enfrentar muitos obstáculos, como condições climáticas extremas, brigas, preconceito e falta de proteção, além da circulação e consumo de drogas.







Há um mês, Maurício, de 26 anos, viu a família se mudar de Embu das Artes, na região metropolitana paulista, para Minas Gerais, mas a condição financeira o impediu de acompanhá-los. Por conta disso, está sem casa pela primeira vez na vida.
“Não é fácil. Para dormir, é desconfortável. Quando chove, temos que nos proteger. Tem briga, alguém ameaça ‘tacar’ fogo em nós. Quando estamos seguros, dormimos aqui. Quando não estamos, nos mudamos”, diz ao Metrópoles.
Segundo Maurício, o governo até oferece auxílio, “mas não ajuda com o que a gente precisa, que é dar uma oportunidade de mudar de vida”. Ele conta que já ficou internado em uma unidade do Centro de Atenção Psicossocial (Caps).
Restaurantes doam comida
Para se alimentar, tem a ajuda de um amigo para pedir comida em restaurantes, porque ainda sente vergonha da condição. Igor, de 28 anos, é quem divide o espaço com Maurício e o orienta nas ocasiões mais difíceis.
O catador de materiais recicláveis falou à reportagem que saiu há pouco tempo da cadeia. “Não tinha casa, não tinha nada, então isso aqui foi o meu lar.” Segundo ele, o principal problema enfrentado na rua são as brigas. “Tem muito ‘perreco’”, lamenta. Igor também alega que as marmitas entregues pela prefeitura são apenas “para fazer média”.
Daniel, de 39 anos, vive há oito meses na rua e não costuma se fixar em apenas um lugar: “Eu ando muito”. Dentre todos os problemas, ele destaca o preconceito. “A gente é invisível, na verdade. Ninguém dá muito apoio”, diz. Os materiais recicláveis também são o sustento, porque “falta emprego, oportunidade”, reclama.
FONTE: REBECA LIGABUE, LEONARDO AMARO – METRÓPOLES