Polícia prende homem que asfixiou e envenenou filho

adjunto da DHPP de Vila Velha, delegado Cleudes Junior; adjunto da DHPP de Vila Velha, delegado Adriano Fernandes; chefe da DHPP de Vila Velha, delegado Daniel Fortes; superintendente de Polícia Especializada (SPE), delegado Agis Macedo; delegado-geral adjunto da Polícia Civil (PCES), José Lopes; chefe do Departamento Especializado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DEHPP), delegado Ricardo Almeida; médica-legista Jeane Pissarra Teixeira Monteiro, da Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES); perito Oficial Criminal da PCIES, Gabriel Alipio, da Seção de Perícia em Crimes Contra a Pessoa (SECPE) e, a perita Oficial Criminal da PCIES, Mariana Dadalto Peres, do Laboratório de Toxicologia Forense (LABTOX).

A Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), por meio da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha, prendeu, na tarde do último sábado (1º), um homem de 37 anos suspeito de assassinar o próprio filho, Bernardo Souza Nascimento, de 6 anos. O crime ocorreu na quinta-feira (30), no bairro Jabaeté, em Vila Velha. A prisão ocorreu no bairro Goiabeiras, em Vitória.

Os detalhes foram divulgados em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (03), na Chefatura de Polícia Civil, em Vitória. O delegado-geral adjunto da PCES, José Lopes, destacou a gravidade do caso. “Divulgar o trabalho é importante, mas, ao mesmo tempo, é triste ver um crime dessa natureza. Passei 13 anos no DHPP e nunca me acostumei com situações como essa. É inaceitável tirar a vida de uma criança, ainda mais se tratando do próprio pai”, afirmou.

O adjunto da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vila Velha, delegado Adriano Fernandes, relatou que o suspeito confessou o crime no momento da prisão. “O crime que ele praticou foi bastante revoltante. Ele era o pai, tinha o dever de cuidar e proteger o filho, mas terminou matando a própria criança para se vingar por não aceitar o fim do relacionamento com a ex-esposa”, disse.

Segundo o delegado, a DHPP recebeu a ocorrência na noite do dia 30, referente ao suposto envenenamento, e passou a realizar diligências para localizá-lo. “Nossa equipe obteve a placa do veículo dele, uma moto, e incluiu no Cerco Inteligente do Estado, que identificou que o veículo passou entre Vitória e a Serra”, frisou.



Adriano Fernandes detalhou que, ao ser abordado, o suspeito não ofereceu resistência. “Ele sabia o que tinha feito. Confirmou a autoria do crime e relatou que deu um sedativo ao filho. Quando a criança dormiu, ele a asfixiou. O laudo pericial determinará se a causa da morte foi exclusivamente a asfixia mecânica ou se houve influência de envenenamento, pois foram encontrados medicamentos no local”, informou.

A prisão do suspeito contou com um fator inesperado. “No dia 31, uma equipe da DHPP estava conversando com a mãe da vítima quando um número desconhecido ligou para ela. Era o suspeito perguntando sobre a situação. Ao saber que a mãe estava com policiais, ele desligou. Retornamos a ligação e um morador do bairro República atendeu, informando que um homem lhe pedira o telefone emprestado para ligar para a mãe. O morador nos repassou as características e roupas que o suspeito usava, o que permitiu a localização e a prisão”, acrescentou o delegado.

Sobre a motivação do crime, o delegado adjunto da DHPP de Vila Velha frisou que o suspeito não aceitava o fim do relacionamento. “Ele era possessivo, perseguia a ex-companheira, ia até o trabalho e a igreja dela. Em dezembro de 2024, após ameaças, ela registrou um boletim de ocorrência e solicitou medida protetiva. No dia 30, o suspeito pediu para visitar o filho e os dois passaram o dia na praia. No retorno, a criança mencionou que a mãe pretendia se mudar e isso pode ter sido o gatilho para o crime”, salientou.

Após cometer o homicídio, o suspeito divulgou nas redes sociais um vídeo íntimo da ex-companheira. “Isso reforça que sua intenção era atingi-la de todas as formas. Além de matar o filho, ele tentou humilhá-la publicamente”, disse o delegado.

Fernandes afirmou ainda que o inquérito ainda está em andamento. “Estamos apurando se houve descumprimento da medida protetiva. Ele responderá por homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e contra menor de 14 anos. Outras qualificadoras ainda serão analisadas, incluindo a divulgação das imagens”, observou.

Questionado sobre um possível arrependimento, o delegado foi categórico. “No depoimento, ele disse estar arrependido, mas pelo histórico de ameaças, isso não pode ser levado em consideração. Em dezembro, ele já havia ameaçado a ex-companheira e os filhos. O inquérito determinará a responsabilidade dele e será indiciado”, completou.

Perícia do caso:

O perito oficial criminal da Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES), Gabriel Alípio, da Seção de Perícia em Crimes Contra a Pessoa (SECPE), relatou que a equipe foi acionada por volta das 20h40 para atender a um caso de possível envenenamento ou encontro de cadáver. “Chegamos ao local e encontramos a criança de aproximadamente cinco a seis anos já sem vida. Havia sinais de espuma na boca e sangue na cavidade oral”, descreveu.

Gabriel Alípio informou que a análise inicial indicava um possível quadro de intoxicação. “Coletamos vestígios no local para auxiliar na investigação. Na cozinha, sobre a pia, encontramos um frasco contendo substância compatível com medicamentos”, destalhou. Também foram coletadas amostras da boca da criança e encaminhadas para a análise toxicológica. “Até o momento, não há indícios de lesões externas”, complementou.

A médica-legista Jeane Pissarra Teixeira Monteiro, da PCIES, disse que o exame foi iniciado na manhã de quarta-feira, 21 de janeiro. “O corpo de Bernardo não apresentava lesões externas ou traumas visíveis”, contou. O principal achado foi um cogumelo de espuma — grande quantidade de espuma esbranquiçada e esponjosa, comum em casos de afogamento ou envenenamento por agentes que encharcam os pulmões.

Durante o exame interno, não foram encontrados corpos estranhos nas vias aéreas nem lesões traumáticas nos órgãos internos. “Detectamos uma grande quantidade de líquido nos pulmões, extravasamento para a cavidade pleural e pericárdica, além de múltiplas petéquias – pequenas hemorragias superficiais nos pulmões e no coração -, compatíveis com hipóxia (falta de oxigenação)”, explicou a médica-legista.

A hipótese de envenenamento ou asfixia ainda está sendo investigada. Foram coletadas amostras do estômago e sangue para a análise laboratorial, mas não havia urina disponível para exame. “O material está em processamento para comprovar se houve envenenamento ou asfixia mecânica”, pontuou Jeane Monteiro.

Ela ressaltou que a ausência de marcas físicas não descarta a hipótese de asfixia. “Como a criança era pequena e de baixo peso, a asfixia poderia ocorrer sem deixar sinais externos. Se estivesse sedado ou dormindo, também não teria como oferecer resistência”, analisou a médica-legista. A conclusão dependerá dos laudos complementares. “Estamos aguardando os resultados para emitir um parecer definitivo”, disse.

A perita oficial criminal Mariana Dadalto Peres, do Laboratório de Toxicologia Forense (LABTOX) da PCIES, informou que o material foi recebido na sexta-feira (31) à tarde. “Recebemos sangue, o conteúdo estomacal da criança e o material coletado no local. Iniciamos o processamento na manhã desta segunda-feira (03)”, comentou.

Até o momento, não há resultados conclusivos. “Estamos analisando a presença de medicamentos no sangue e no conteúdo gástrico para confirmar ou descartar o uso de alguma substância. Também investigamos a hipótese de intoxicação por carbamato ou outros agrotóxicos”, afirmou Mariana Dadalto Peres.

Os exames nos materiais coletados, incluindo a caneca e o sódio, já começaram. “Ainda não temos nenhum resultado que possa ser divulgado”, adiantou a perita.