
O ex-governador Paulo Hartung (PSD) voltou à cena política nesta semana, declarando apoio público ao deputado Sérgio Meneguelli, que anuncia sua filiação ao partido do Kassab, para o Senado Federal.
O gesto, acompanhado de um vídeo divulgado nas redes sociais, foi apresentado como uma “aliança em nome da nova política”, mas teve efeito contrário: reacendeu críticas sobre o estilo de fazer política de Hartung, conhecido por seu pragmatismo e métodos considerados arcaicos por muitos analistas.
O “apoio que desajuda”
Nos bastidores, o gesto foi interpretado como mais um movimento de autoafirmação do ex-governador, que tenta se reposicionar após anos de afastamento do protagonismo político. Entretanto, para aliados e adversários, o apoio de Hartung é visto como “anti-propaganda”: um selo de desgaste político que mais prejudica do que ajuda.
Sérgio Meneguelli, que tenta se apresentar como representante da “nova política” e da ética na gestão pública, acaba agora associado a um dos símbolos da velha engrenagem política capixaba. O contraste é inevitável: Hartung personifica o “imperialismo”, e Meneguelli tenta se vender como o oposto dele, o plebeu humilde..
A ausência que fala alto: Pazolini
Enquanto o ex-governador faz gestos calculados, uma foto ainda não tirada virou símbolo da distância entre Hartung e outro protagonista da política atual: o prefeito de Vitória e pré-candidato ao governo do Estado, Lorenzo Pazolini (Republicanos). Esperava-se que, em algum momento, surgisse a imagem pública dos dois juntos, um marco de alinhamento político. Mas essa foto não veio.
O silêncio e a ausência de encontros formais alimentam a tese de que Hartung atua em outro tabuleiro, tentando moldar o cenário sem se comprometer diretamente.
Velhos métodos, novo discurso
Hartung tenta vestir o discurso da “renovação”, mas seu modus operandi político continua medieval: movimentações de bastidor, alianças oportunistas e declarações de ocasião. O ex-governador parece lutar contra a própria biografia marcada por articulações frias e pela centralização de poder, enquanto tenta se inserir num cenário onde o eleitor busca autenticidade e ruptura.
O fantasma da greve e o preço da história
Para muitos capixabas, é impossível dissociar Paulo Hartung do episódio mais traumático de sua gestão: a greve da Polícia Militar de 2017, que mergulhou o Espírito Santo no caos e deixou mais de 200 mortos em poucos dias. O episódio destruiu a imagem de eficiência e controle que o ex-governador cultivava e se tornou um marco do desgaste de sua liderança.
Hoje, qualquer reaparição política de Hartung revive esse fantasma: o de um Estado desgovernado e de um líder incapaz de dialogar com a própria base de segurança pública.
O retorno de Paulo Hartung ao palanque, travestido de mentor da nova política, soa como contradição e ironia histórica. Seu apoio à dupla Sérgio Meneguelli e a Pazolini, o primeiro outrora ícone do moralismo municipalista, mais parece um abraço de urso eleitoral.
No Espírito Santo, onde a memória política é longa, o ex-governador continua sendo o “anti-cabo eleitoral”: aquele cujo apoio, em vez de somar, costuma tirar votos.