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O preço do café foi a patamares nunca antes vistos na história desse País . Há 40 anos, a luta do setor era para que se chegasse a 50 dólares a saca de 60 kg, com a meta idealizada de 100 dólares, o que equivaleria hoje a aproximadamente R$ 580,00.
Na época, presidente da Organização das Cooperativas do Brasil no Espírito Santo (OCB-ES), Nahum Soeiro deu inúmeras declarações neste sentido. O tempo passou.
Nos últimos 12 meses, café estocado passou a ser o melhor negócio do mundo, dado à valorização do produto, que fechou a última semana a R$ 2.275,00 a saca do Arábica Rio e R$ 2.052,00 o conilon. Isso equivale à faixa de 350 a 390 dólares.
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MUDANÇA CLIMÁTICA
No senso comum, o principal motivo para a grande valorização é a mudança climática: por exemplo, calor extremo no Vietnã, segundo maior produtor do mundo, que perdeu lavouras em grande quantidade com as plantas queimadas pelo sol.
A produção mundial de café para o período de outubro de 2024 a setembro de 2025 foi estimada em 176,2 milhões de sacas de 60 kg.
No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a produção de 51, 8 milhões de sacas em 2025, queda de -4,4% em relação à safra de 2024. Algum efeito do clima, mas também à baixa bienalidade – em geral, uma grande safra tende a queda na seguinte.
Alguns comerciantes apostam numa safra maior, e com isso forçam o preço para baixo. Mas, na outra ponta, produtores apontam outra realidade: queda de até -30% na safra devido, em especial, a escassez hídrica e forte insolação.
Nas grandes regiões cafeeiras do Norte do Espírito Santo, maior produtor de conilon do mundo na atualidade, há muitos relatos de que o calor intenso e a forte insolação estão sendo devastadores.
Não chegam ao ponto de queimar as plantas, como ocorre no Vietnã, mas, segundo eles, estão “cozinhando” os grãos nos pés. Ou seja, pela lei da demanda e oferta, tendência de preço em alta.
DIQUE SE ROMPEU
Para o engenheiro agrônomo, consultor e produtor José Carlos Gava Ferrão, 65 anos, atualmente estabelecido no Sul da Bahia, cujas lavouras tiveram grande impulso com a migração de produtores do Norte capixaba, o aumento do preço vai muito além das questões climáticas.
“Toda esta alta não surgiu do nada, ela é consequência de erros estratégicos do passado recente. A insistência em manter um preço ao produtor muito baixo e o lucro ficando quase todo com os torradores e traders, gerou toda esta crise de abastecimento que agora vivemos”, comenta Ferrão, de tradicional família capixaba especialista em café.
De acordo com José Carlos, “essa história de que foi o clima 100% responsável não é verdade e, sim, uma explicação muito simplista, que não se sustenta”
“Há anos estamos vendo o consumo subir de elevador e a produção de escada. O ‘time‘ diferente era sempre coberto por estoques de reservas que serviam para mascarar o que de fato ocorria. Mais recentemente, com estoques já baixos, os compradores se utilizavam do Just in time com o uso da logística perfeita”, analisa.
Ferrão observa que “estavam todos de olhos vendados, curtindo os lucros enormes em cima da produção. Acreditaram nas próprias narrativas e agora se espantam com o que estão vendo”.
O consultor alerta: “Não viram nada ainda, não estou falando em alta de preços, isto já está aí, se vai mais ou não se manter, isso dependerá de uma série de outras coisas que fogem a uma análise rasa neste momento. Falo de uma coisa que podemos ter certeza: a maneira de comercializar irá mudar muito e a narrativa de preços historicos já era. O negócio café está finalmente entrando no século XXI”.
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CORRIDA DO OURO
Partindo desse pressuposto, estaria correto o movimento de plantio de novas lavouras, como se vê, claramente, no Norte do Espírito Santo, prenunciando um aumento significativo da participação capixaba na safra mundial de conilon.
Um grande produtor ouvido por este jornalista, entretanto, coloca um ponto de dúvida e cautela. Segundo ele, “na empolgação, tem gente gastando muito para implantar novas lavouras e não calculando riscos. Se o preço cair para R$ 1.500,00 a saca, quebra mais da metade”.
Ferrão concorda que “tem muito aventureiro entrando na produção empolgado com o preço alto” e questiona: “Como essa gente vai se comportar se houver uma frustração de preço? Para nós, produtores antigos, isso é normal e a gente não fonge quando o mercado vira”.
De toda forma, salienta que o mercado consumidor vem crescendo há 30 anos e, a cada vez, aumenta mais. A demanda mundial é por 180 milhões de sacas, assegura.
GARGALOS
Há espaço, segundo Ferrão, para o Brasil aumentar sua produção em 20 milhões de sacas, mas existem gargalos, aparentemente, difíceis de transpor, pelo menos a curto prazo.
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Num evento na última quarta-feira (5) em Brasília, o ministro Carlos Fávaro, da Agricultura, discursou que o Brasil tem um nó logístico de transporte de sua produção de alimentos.
“Não falo de uma supersafra de 330 milhões de toneladas de grãos, mas de 1,250 bilhão de toneladas de alimentos que o Brasil produz e que precisam de transporte. Precisamos de mais ferrovias e mais portos”, disse Carlos Fávaro no lançamento da Aliança para o Desenvolvimento Energético dos Polos e Projetos de Irrigação.
Dentre essas cargas, o café, que enfrenta outros gargalos, a mão-de-obra como o principal.
“Todo mundo hoje tem problema com mão-de-obra. Fala-se na mecanização, mas ela não cabe no café de montanhas. E mesmo onde cabe, não é todo mundo que tem condições de mecanizar. E tem muita operação no café que a máquina não faz. Então, antes de meter o pé, tem que pensar bem’”, aconselha Ferrão.
FONTE: TRIBUNA NORTE LESTE