O que é ‘gangbang’, fetiche que despontou no ‘censo do sexo’ em Minas Gerais

Prática grupal foi lembrada por 37% dos usuários mineiros de uma plataforma virtual adulta

Foto: VladOrlov/iStockphoto -

Do sexo à distância às orgias, taras e fetiches: é amplo o leque de possibilidades no sexo, com preferências que, por razões quase insondáveis, sobem e descem no ranking de mais buscadas, se alternando ano a ano. Em 2024, por exemplo, um levantamento realizado pela SexLog, plataforma adulta com mais de 22 milhões de usuários cadastrados, identificou que, entre as taras mais populares no Brasil, o sexo virtual e o sexting, como é chamado o ato de compartilhar conteúdos eróticos em aplicativos de mensagens e em redes sociais, continuavam em alta. As práticas, claro, já vinham em uma crescente, acompanhando o desenvolvimento das mídias digitais, dando um salto com a pandemia da Covid-19. Desde então, essas práticas não saíram mais do pódio das mais citadas.

Mas, além do recorte geral, a pesquisa da SexLog permite identificar tendências com recorte regional, que apontam para um curioso mosaico de predileções. Em São Paulo, por exemplo, a tara favorita é o sexo anal, que atrai 69% da audiência. Já no Distrito Federal, destaque para o voyeurismo, que seduz 46% dos entrevistados. No Espírito Santo a orgia é mais popular, agradando 51% dos usuários. Por fim, em Minas Gerais, a prática que desponta pode nem sequer ser conhecida de pessoas menos inseridas no universo das parafilias: trata-se do gangbang, modalidade lembrada por 37% das pessoas ouvidas nesse “censo” do sexo.

“Diferente da orgia, da suruba, que também inclui mais de três pessoas, com todo mundo podendo interagir com todo mundo, no gangbang, o foco é uma pessoa só, que vai ser penetrada por todas as outras”, explica o produtor de conteúdo adulto Brunno Vieiro, 35, que também assina como Bitchman. Ele detalha que a prática é popular na pornografia, seja hétero ou homossexual. “Geralmente, vai envolver uma mulher com vários homens ou um passivo com vários ativos”, resume.

“É um fetiche muito masculino, ligado à ideia de submissão daquela mulher ou daquele passivo. Ou seja, há a ideia de que aquela pessoa, no centro da roda, está servindo àqueles homens, que curtem essa experiência de estarem no comando”, avalia, ponderando que essa leitura da cena pode ser subvertida: “Do meu ponto de vista, e acredito que este também é o ponto de vista de muitas mulheres, o que acontece é o contrário, pois, quando estou sendo o passivo desse grupo, entendo que eu é que estou no controle da situação, que eu é que estou dominando todos eles”.

Brunno reconhece que, entre os seus seguidores, o gangbang faz sucesso. “Eu percebi que as pessoas que me seguiam gostavam dessas coisas diferentes, queriam me ver usando os ativos, porque sou um passivo dominador, e sendo usado por eles”, explica, que se reconhece como um praticante frequente dessa modalidade de sexo grupal, que, para ele, anda em paralelo ao BDSM – conjunto de práticas consensuais envolvendo bondage e disciplina, dominação e submissão, sadomasoquismo. “Tanto que já fiz festa para esse público na posição de gang”, menciona.

Dicas e primeiras experiências

Além de estar na sua rotina profissional, o produtor de conteúdo situa que a tara já estava presente na sua vida antes de dar início à carreira de produtor de conteúdo adulto. “A minha primeira vez foi há 10 anos, mais ou menos, e incluiu uns sete ativos”, recorda. “Eu estava na faculdade ainda e fui fazer um trabalho no Rio de Janeiro. Então, fiquei na casa de um ficante. Em uma noite, ele deu uma festinha no apartamento, daí perguntou se podia me servir para os amigos dele, eu topei. A gente passou a madrugada inteira assim”, completa.

Com anos de prática, Brunno se considera um tanto fora da curva. “Eu não sirvo muito de métrica. Já dei festas em que, vendado, fui penetrado por mais de 100 homens em uma noite. Mas, nessas situações, é um lance rápido. Penetra e sai. Não tem isso de ficar demorando”, comenta, antes de prosseguir com conselhos para quem deseja realizar experimentar o gangbang.

“A primeira dica é: segurança. É importante estar em um local seguro, como uma casa de sexo, e/ou com pessoas que você confie, sobretudo na primeira vez”, aponta. “A segunda coisa é entender o próprio corpo, porque chega uma hora que a gente não aguenta, que o próprio corpo repele a penetração. Então, você precisa estar atento aos sinais – e em condições de estar atento aos sinais”, recomenda. “Por fim, em termos de preparação, o principal é adotar suas medidas de cuidados pessoais, usar muita lubrificação, relaxar e curtir”, assinala.

Popularização

Para a ginecologista obstetra e sexóloga Isabela Aguiar, o aumento do interesse pelo gangbang não surpreende. “É uma prática que já é bastante conhecida na indústria pornográfica, onde ganhou visibilidade em 1995, quando uma atriz teve relações com 251 homens e isso ganhou os holofotes da mídia”, situa, acrescentando que a popularização pode ter sido favorecida por uma maior abertura sexual, ampliada pelo presente debate e aceitação de comportamentos sexuais não convencionais.

Mas ela reforça que a influência da pornografia segue como a principal razão por trás do interesse pela prática. “No Brasil, recentemente, uma modelo postou vídeos se relacionando com oito homens, fazendo esse tema voltar à tona e entrar no radar de quem está buscando por novas experiências sexuais”, assinala.

A também ginecologista e obstetra Rebeca Filgueiras acrescenta que outros aspectos culturais podem entrar nessa equação. “Acredito que por Minas Gerais ser um Estado com uma cultura um pouco mais conservadora, talvez essa vontade de transgredir seja tão maior”, avalia.

Ela acrescenta que, como em outras práticas sexuais, o fetiche tem suas regras – “que vão variar de pessoa para pessoa, de contexto para contexto”, sinaliza. Pode ser, por exemplo, que exista uma pessoa controlando um pouco a ordem, a sequência das pessoas. “Mas, geralmente, essas regras estão ligadas à proteção, uso de preservativo, respeito, higiene e segurança”, detalha.

Cuidados

Como em qualquer prática sexual convencional ou não, Isabela Aguiar alerta ser fundamental estabelecer regras claras entre os participantes para garantir o consentimento mútuo, a segurança e respeito. “Assim como no BDSM, os princípios SSC (são, seguro e consensual) devem ser considerados”, aponta.

A sexóloga prossegue destrinchando cada tópico do SSC: “Quando falamos em estar ‘são’, estamos dizendo que as pessoas envolvidas não podem ter nenhum desvio psicológico que tiraria o poder de dar o consentimento por livre arbítrio, além de não estar sob efeito de nenhuma droga ou entorpecente que desviaria sua capacidade mental; ‘seguro’ quer dizer que todas as práticas devem ser seguras, de preferência sempre com planos de emergência, palavras de segurança e precare e aftercare adequados; já ‘consensual’ indica que toda prática deve ser expressamente consentida por todos os participantes”, resume.

Rebeca Filgueiras acrescenta que podem acontecer lesões genitais devido a múltiplas penetrações, incluindo fissuras, machucados, irritação local, edema, coceira e vermelhidão. Ela ainda adverte que essas feridas, mesmo quando não são visíveis, aumentam o risco para transmissão infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) se não houver muito cuidado com o correto uso de preservativos e adequado cuidado com a higiene.

Nesse sentido, Isabela orienta para o cuidado extra com a lubrificação: “Durante períodos longos de penetração, a vagina perde lubrificação natural, aumentando riscos de fissuras. Já o ânus não produz lubrificação, havendo risco ampliado de lesões sem uso de lubrificantes, de preferência a base d’água”.

FONTE: O TEMPO