O eleitor capixaba é conservador no comportamento, mas pragmático nas urnas. Essa contradição explica porque o Espírito Santo votou em Jair Bolsonaro (PL) nas duas últimas eleições presidenciais, mas nunca elegeu um governador identificado com a direita ideológica.
Desde a redemocratização, o Estado teve uma sequência de gestores moderados, tecnocratas ou socialdemocratas, como Max Mauro (PDT), Albuíno Azeredo (PDT), Vitor Buaiz (PT), José Ignácio Ferreira (PSDB), Paulo Hartung (MDB/PSDB/sem partido) e Renato Casagrande (PSB). Nenhum se enquadra no perfil bolsonarista ou liberal-conservador.
1. O conservadorismo cultural sem tradução partidária
O capixaba médio é conservador nos costumes, na religião e na moral, mas evita o radicalismo. A direita capixaba sempre foi mais cultural que política, marcada por valores familiares, fé evangélica e apego à ordem , mas sem representação orgânica nos partidos ou nas elites políticas locais.
2. O voto “anti-sistema” nas eleições presidenciais
Nas eleições nacionais, o voto em Bolsonaro foi um grito de protesto contra o sistema político, mais do que adesão a um projeto ideológico. O eleitorado quis punir o PT e o establishment, e Bolsonaro encarnou essa reação. Mas no plano estadual, o mesmo eleitor busca gestores com imagem de estabilidade, diálogo e eficiência.
3. O poder dos grupos tradicionais
A política capixaba é dominada por oligarquias e grupos moderados — Hartung e Casagrande — que controlam as alianças, as prefeituras e os recursos. Esses grupos são adaptáveis: mudam de discurso conforme o vento nacional, mas mantêm o poder local. A direita ideológica, por outro lado, nunca teve estrutura, liderança nem base sólida para enfrentar esse sistema.
4. A direita capixaba é fragmentada e sem identidade
Mesmo após o bolsonarismo, o Espírito Santo não formou um bloco de direita coeso. Há líderes isolados de centro direita, como Pazolini, Euclério Sampaio, Ricardo e Magno Malta , mas sem unidade programática ou projeto estadual. A direita capixaba ainda não conseguiu transformar o voto de opinião em projeto de poder institucional.
Conclusão
O Espírito Santo é, portanto, um estado sociologicamente conservador, mas politicamente centrista.
Enquanto o eleitor pensa à direita, o sistema político continua à esquerda moderada.
O voto em Bolsonaro foi um recado, não uma revolução.
E até hoje, o Palácio Anchieta nunca foi ocupado por um governador verdadeiramente de direita, apenas por pragmáticos que entenderam o humor do povo, mas mantiveram o controle das elites.