O aceno de Aécio Neves para filiar Arnaldinho Borgo ao PSDB como pré-candidato ao Governo do Espírito Santo tem mais cheiro de desespero que de estratégia. O partido, hoje um substrato ideológico rarefeito, carrega no Estado personagens controversos e de baixíssima densidade eleitoral. Os tucanos tentam formar um condomínio periférico ao núcleo real de poder no Espírito Santo, mas sem estoque político, sem organicidade e sem narrativa capaz de mobilizar a sociedade.
Nesse cenário, Arnaldinho parece pisar em terreno movediço. Ele tenta projetar musculatura estadual enquanto flerta com um agrupamento que perdeu relevância e autoridade moral. O movimento, portanto, gera ruídos imediatos. A cada sinal de aproximação com o PSDB, o prefeito de Vila Velha amplia a sensação de que se arrisca em uma jogada que pode custar sua reputação construída na gestão municipal.
Além disso, o gesto de Arnaldinho revela outro problema. Ele começa a ser percebido como um político disposto a se adaptar a qualquer moldura, desde que favoreça sua ambição. Assim, sua imagem é empurrada para um terreno perigoso, onde a confiança cede espaço à desconfiança e onde o cálculo eleitoral se sobrepõe à coerência. Ao avançar nessa direção, ele dá combustível para análises que o colocam como figura narcisista, sem autocrítica, guiado mais pela oportunidade do que pela responsabilidade.
O quadro fica ainda mais feio quando se observa o serpentário que se forma ao redor dessa possível filiação. O PSDB, fragmentado e sem horizonte claro, tenta usar Arnaldinho como âncora para sobreviver. O prefeito, por sua vez, arrisca embarcar em um barco que faz água por todos os lados. Neste jogo, todos parecem perder, mas Arnaldinho pode perder mais.
A disputa pelo Palácio Anchieta exige lastro político, alianças sólidas e percepção pública favorável. Ao flertar com um projeto que não entrega nada disso, o prefeito sinaliza insegurança estratégica. Em vez de crescer como liderança estadual, ele se aproxima perigosamente do rótulo de político mais indonfiável do mercado, disposto a tudo e a todos conforme a maré.
O tempo ainda permite correções, mas a cada aceno tucano aceito, Arnaldinho se afunda um pouco mais na lógica do abraço de afogados. O eleitor capixaba observa, analisa e, cedo ou tarde, cobra coerência.
