Número de jovens sem trabalho e estudo é o menor em dez anos no Brasil

Redução é puxada pela recuperação econômica e aumento do emprego formal, mas jovens ainda enfrentam baixos salários e alta informalidade

- Pesquisa mostrou que jovens têm trabalhado por mais de 40 horas na semana Foto: Gil Leonardi / Imprensa MG

O número de jovens brasileiros entre 14 e 29 anos que não estudam nem trabalham caiu para o menor nível em uma década, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). No segundo trimestre de 2025, de acordo com o levantamento, 17,9% dessa população, que equivale a cerca de 8,9 milhões de pessoas, estavam fora da escola e sem ocupação. O número é o menor desde 2015.

O levantamento, feito com base nos dados da PNAD Contínua do IBGE, destacou que entre 2020 e 2025, o volume de jovens nestas condições recuou cinco pontos percentuais. No mesmo período, a taxa de desocupação desse grupo caiu de 24,4% para 10,2%, a menor da série histórica.

Apesar da melhora nos indicadores, o boletim revelou que as condições de trabalho para quem conseguiu uma ocupação ainda são desafiadoras. O rendimento médio dos jovens empregados foi de R$ 2.314, valor 38% inferior ao dos trabalhadores com 30 anos ou mais (R$ 3.740). Quase metade, cerca de 43% dos jovens, ganham até um salário mínimo e 39,5% estão na informalidade.

Entre os ocupados, 47% têm carteira assinada, e 41% trabalham mais de 40 horas por semana, o que, segundo o Dieese, dificulta a conciliação entre estudo e trabalho. O economista do Dieese, Gustavo Monteiro, atestou que a melhora nos indicadores em relação à ocupação do público jovem acompanha o cenário observado para todas as faixas etárias.

Em agosto, a taxa de desemprego apurada pelo IBGE foi de 5,6% – menor patamar histórico já apurado na PNAD. “Então, o número de jovens que estavam sem emprego e sem estudar foi caindo nos últimos anos. E além disso a gente percebe também que essa é uma situação transitória, é uma fase da vida que faz parte da vida e que não tem relação com a má vontade do jovem”, explicou. 

Sem-sem ou nem-nem? 

O estudo também criticou o uso do termo “nem-nem”, historicamente colocado para classificar o grupo que nem trabalha e nem estuda. Gustavo Monteiro diz que a expressão pode reforçar uma falsa ideia de inatividade, enquanto a pesquisa aporesentou um cenário contrário. O levantamento identificou que a maioria dos jovens fora do emprego e da escola está envolvida em outras atividades: 60% cuidam de afazeres domésticos, procuram trabalho ou fazem cursos livres. Apenas 2% declararam não querer trabalhar.

Entre as mulheres, 42% afirmaram estar afastadas do mercado por responsabilidades domésticas e de cuidado com filhos ou parentes. Já entre os homens, 34% estavam à procura de uma vaga. “Não existe mais esse conceito de nem-nem. É uma questão que hoje está mais associada à falta de oportunidades. E quando se usa esse termo, dá a entender que isso é uma coisa específica dessa geração e que seja uma coisa voluntária. Mas quando olhamos para os dados, eles não mostram isso”, disse. 

Para Monteiro, inclusive, políticas públicas e de fomento à economia podem contribuir para uma melhora neste cenário. “Toda vez que o governo faz uma política que ajuda a manter esse ciclo de crescimento, desenvolvimento, de investimento, isso ajuda o mercado de trabalho em geral e ajuda os jovens também”, complementou. 

As profissões mais comuns entre os jovens são vendedores de loja, escriturários e trabalhadores da construção civil – funções que, em geral, exigem pouca qualificação formal. O boletim destaca ainda que a taxa de desemprego é maior nas fases iniciais da carreira, chegando a 20,2% entre os jovens de 18 anos. A desigualdade de gênero e raça também persiste: entre as mulheres negras jovens, a taxa de desocupação alcança 12,7%. 

FONTE: O TEMPO