Novo porto em Vitória vai receber maiores navios do mundo

Espírito Santo se prepara para virar polo estratégico na exportação de petróleo, com porto preparado para operar com os maiores petroleiros do mundo

- Terminal de Granéis Líquidos de Praia Mole, da Blue Terminals, vai receber navios do tipo VLCC (Very Large Crude Carrier), os maiores petroleiros do mundo - Foto: Divulgação

Por Kikina Sessa

Mesmo sendo destaque na indústria extrativa, sendo o terceiro maior produtor de petróleo do Brasil, o Espírito Santo ainda depende de portos de outras regiões para escoar sua produção. Isso deve mudar com a implantação do Terminal de Granéis Líquidos (TGL) de Praia Mole, da Blue Terminals, em fase de licenciamento.

Em entrevista exclusiva, o diretor executivo da empresa, Bruno Fardin, explica como o novo terminal, previsto para entrar em operação no segundo semestre de 2027, promete mudar o mapa logístico do setor de óleo e gás no Brasil.

O projeto, que terá capacidade para operar com os maiores navios petroleiros do mundo, representa um investimento de R$ 340 milhões e deve gerar impactos diretos e indiretos relevantes para a economia capixaba, incluindo mais de 4 mil empregos.

Novo porto em Vitória vai receber maiores navios do mundo
Bruno Fardin disse que estudos do projeto indicam alta disponibilidade para entrada e saída de navios durante todo o ano, independentemente das condições climáticas – Foto: Divulgação

O terminal de Praia Mole terá capacidade para receber os maiores navios exportadores de petróleo do mundo?
Sim. O terminal está sendo projetado para operar com navios do tipo VLCC (Very Large Crude Carrier), os maiores petroleiros do mundo, tornando-se altamente competitivo e atrativo para o mercado de exportação.

Qual a importância desse terminal de exportação para o Espírito Santo?
Com um terminal de exportação, o Espírito Santo passa a integrar o mapa dos estados exportadores de petróleo, o que gera grande impacto socioeconômico tanto para o Estado quanto para os municípios do entorno, como Vitória, Vila Velha e Serra. Embora seja o terceiro maior produtor nacional, a maior parte da produção capixaba ainda é exportada por portos de estados vizinhos, como Rio de Janeiro e Bahia.

O modelo Ship to Ship é utilizado atualmente em quais portos e como funciona?

A operação Ship to Ship (STS), usada para o transporte de petróleo e seus derivados (como gasolina e diesel), é realizada em diversos portos brasileiros, entre eles o Porto de São Sebastião, em São Paulo; Angra dos Reis, Porto Sudeste e Porto do Açu, no Rio de Janeiro; além da Baía de Todos os Santos, em Salvador, e Suape, em Pernambuco. O processo consiste na transferência de carga entre dois navios atracados lado a lado. Isso é necessário porque os navios que coletam petróleo nas plataformas não são adequados para longas distâncias. Também há operações de transferência para navios menores, especialmente na importação de combustíveis, viabilizando o acesso a portos com restrições de calado e tamanho, principalmente na região Norte do país.

A Blue Terminals irá comercializar petróleo?
Não. A Blue Terminals é operadora portuária. A comercialização do petróleo é feita pelos donos da carga — grandes petroleiras como Petrobras e Shell, por exemplo. O petróleo brasileiro é majoritariamente exportado para a China, vindo depois Europa e América do Norte.

Quais são as garantias de segurança socioambiental do projeto?
A operação STS é considerada uma das mais seguras dentro da logística portuária. Os navios utilizados devem obrigatoriamente ter casco duplo, há controles operacionais automatizados e rigorosos protocolos normativos, além de auditorias constantes. Todo o processo é altamente regulamentado e monitorado, com elevado padrão de exigência técnica e ambiental.

Em quais portos o projeto se inspirou?
O Porto de Rotterdam, na Holanda, é uma das principais referências, especialmente no uso de dolphins para atracação em operações STS.

Que garantia a empresa tem de que grandes grupos vão querer exportar pelo ES?
A expectativa de crescimento da produção e exportação de petróleo no Brasil é alta nos próximos anos. A infraestrutura portuária atual para operações STS já se aproxima do limite. O Espírito Santo tem localização estratégica (próximo às bacias de Campos e Santos) e representa uma alternativa logística ao Rio de Janeiro. Além disso, os estudos do projeto indicam alta disponibilidade para entrada e saída de navios durante todo o ano, independentemente das condições climáticas, o que nem sempre é possível em outros portos do Sudeste.

Como avalia os recentes investimentos privados nos portos do Espírito Santo?
São extremamente relevantes. Estão alinhados à vocação do Estado para a logística portuária e o comércio exterior, além de promoverem desenvolvimento econômico e geração de empregos.

Qual será o impacto socioeconômico do terminal?
O impacto será significativo. Além da arrecadação de tributos decorrentes da operação portuária, a regulamentação da ANP prevê o pagamento de royalties ao município onde o terminal está localizado e também aos municípios do entorno. O empreendimento contará com um investimento estimado de R$ 340 milhões e terá capacidade para movimentar até 14 milhões de toneladas por ano, o equivalente a cerca de 100 milhões de barris, por meio de operações de transferência de petróleo entre navios (Ship to Ship).

Estudos apontam que o terminal gerará um valor adicionado de R$ 268 milhões anuais à economia capixaba, representando um incremento direto no PIB estadual. A arrecadação anual de tributos — incluindo PIS, COFINS, IR e ISS — está estimada em R$ 156 milhões. Em relação aos royalties, a previsão é de aproximadamente R$ 80 milhões por ano, sendo distribuídos entre Vitória (40%), Serra (30%) e Vila Velha (30%). Além disso, o terminal posicionará o Espírito Santo como novo polo exportador de petróleo no Brasil. Estima-se ainda a criação de cerca de 4 mil empregos diretos, indiretos e por efeito induzido, fortalecendo a economia regional e gerando oportunidades para a população local.

FONTE: ES BRASIL