Nova mistura do biodiesel pode reduzir preços dos combustíveis e dos alimentos

Teor passará de 14% para 15% a partir de agosto

- Novo teor de adição vai aumentar a demanda por óleo de soja em 150 mil toneladas no último trimestre deste ano — Foto: Fernando Dias/Seapa

A elevação da mistura do biodiesel ao diesel fóssil, de 14% para 15%, válida a partir de agosto e confirmada nesta quarta-feira (25/6) pelo governo federal, pode gerar redução nos preços dos combustíveis, afirma o setor produtivo. O motivo seria a menor dependência do petróleo, item impactado pelas guerras em curso. Deve haver também efeito deflacionário em alimentos, como as proteínas animais, com maior esmagamento de soja e produção de farelo, que alimenta os animais, e crescimento da economia em geral.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o novo teor de adição vai aumentar a demanda por óleo de soja em 150 mil toneladas no último trimestre deste ano. O movimento vai impulsionar o esmagamento da oleaginosa em cerca de 750 mil toneladas adicionais de setembro a dezembro, o que deve gerar 600 mil toneladas de farelo e mais 300 milhões de litros de biodiesel produzidos, totalizando 9,8 bilhões de litros em 2025, segundo a entidade.

A Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FBio) afirmou, em nota, que a confirmação da elevação da mistura fortalece a segurança energética e alimentar da população brasileira. “Em meio a tantas incertezas no cenário internacional, que afetam preços e causam instabilidade nos mercados, a decisão do governo brasileiro promove a soberania nacional, ao mesmo tempo que garante a expansão de investimentos na ordem de R$ 200 bilhões; impulsiona a transição energética, reduz a emissão de gases estufa, além de estabilizar os preços da cadeia de proteínas”, afirmou a entidade.

O aumento da mistura ocorre com atraso de seis meses. Pela regra, o teor de 15% deveria ter entrado em vigor em março. Pressionado pela inflação dos alimentos e dos combustíveis naquela época, o governo decidiu congelar o percentual em 14% e adiar o cronograma de elevação.

Havia uma expectativa, comentada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, de oficializar a elevação da mistura para B15 em 60 dias, prazo que acabou no início de maio sem novidades no front. À época, a guerra comercial entre Estados Unidos e China afetava os preços da soja, principal matéria-prima do biodiesel, e a pressão das usinas pelo aumento da adição esfriou. A avaliação era que a oleaginosa mais cara espremeria margens das empresas se houvesse mais esmagamento.

Com arrefecimento dos preços e a realização de estudos técnicos para sanar dúvidas sobre a viabilidade da mistura em teores mais altos e da qualidade do biodiesel, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, voltou a defender a elevação da mistura. O mesmo cenário vale para o etanol, que teve adição na gasolina ajustada de 27% para 30%. A queda na cotação do milho, insumo para o biocombustível, colaborou.

A FPBio disse que o setor do biodiesel ainda sofre ataques em relação à elevação da mistura, mas que o movimento é respaldado por estudos técnicos e científicos.

Deflação

O efeito do biodiesel na cadeia de proteínas é significativo, diz o setor. O aumento da mistura de 14% de biodiesel para 15% pode gerar efeitos benéficos para a economia brasileira no geral, aponta a FPBio, presidida pelo deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS).

“Com o aumento da mistura se estima que o PIB mensal seria 0,36% maior, a produção de óleo de soja seria 2,35% maior e a de carne de frango seria 1,37% maior”, estimou a frente.

“A carne bovina, tão cara ao brasileiro, teria um aumento de 1,78% na sua produção mensal. Tudo isso significa maior oferta de alimentos e comida mais barata na mesa do povo brasileiro”, informou a FPBio.

Segundo estudo da Abiove, o incentivo do biodiesel ao esmagamento de soja pode levar a uma diminuição no IPCA de -0,05%, resultado agregado líquido dos ganhos com a queda dos preços das carnes.

A FPBio ressaltou ainda a importância dos biocombustíveis para a estabilidade dos preços ante os combustíveis fósseis. “Como o petróleo é mais volátil no mercado internacional, então o preço do mesmo cresce mais em choques”, disse na nota.

A entidade citou a elevação de 26% na cotação do petróleo nas últimas três semanas com o cenário de guerra entre Irã e Israel, entraves no estreito de Ormuz (rota de escoamento de 30% do petróleo comercializado no mundo), a continuidade dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, as tensões econômicas entre Estados Unidos e China e o aumento do protecionismo por parte do governo norte-americano.

“Isso eleva os preços dos combustíveis, tendo, portanto, um efeito inflacionário na economia como um todo. Já o biodiesel não é tão suscetível a choques internacionais, pois o preço da soja, seu principal insumo, é mais estável que o petróleo”, defendeu a FPBio.

“Nesse cenário, portanto, os biocombustíveis possuem um efeito deflacionário em comparação aos combustíveis fósseis. O Brasil, mesmo sendo produtor de petróleo, é um importador de diesel, pois não possui capacidade de refino interno. Dado isso, o biodiesel é um fator que contribui para diminuir a dependência brasileira do diesel importado”, completou.Mais recentePróximaMisturas do biodiesel e do etanol serão aumentadas a partir de agosto.

FONTE: GLOBO RURAL