Natal é Ágape?

Autor reflete sobre o sentido espiritual do amor ágape, sua relação com o Natal e a dificuldade humana de viver esse amor pleno segundo o Evangelho.

O Evangelho de João já estava concluído, talvez o apóstolo já estivesse morto, quando chegaram os emissários do bispo de Roma com uma mensagem clara: Jesus fundou sua ekklesia (Igreja, comunidade) sobre e sob a liderança de uma Petra (Pedro), não confundida com a pedra fundamental (lithos, em grego).

Os joaninos não ficaram contentes, então acrescentaram a perícope de Jesus (Jo 21) perguntando por duas vezes a Simão filho de João (não o chama de Petra): Ágapas me? Pedro, que certamente era um tosco, como a maioria de nós todos, não seria capaz de dizer que amava seu senhor acima de tudo, então respondeu: filos se (gosto de ti). Jesus entende a limitação do seu maior seguidor e pergunta, finalmente, na terceira vez: filos me?

Essa dificuldade de ter um amor divino (ágape) pelas pessoas é tamanha que quando foi traduzida para o latim, caridade, perdeu aquele significado e ganhou um novo; ajudar o necessitado… O Ágape ou Cáritas é muito mais que isso. Envolve perdão, empatia, capacidade para o diálogo, o desejo de construir uma paz verdadeira.

É algo muitos que dizem defender valores cristãos não têm e não conseguem entender que não têm. É a ignorância perfeita, em que o ignorante não sabe que é inepto. Como aqueles que cometem crime de difamação, mas creem que é direito de livre manifestação.

Muitos leem a Bíblia, mas não enxergam, não entendem, não creem. Ignoram que o próprio Deus agiu entre os gentios. Deus envia um anjo para socorrer a escrava egípcia Agar (Gn16,7ss). Deu uma visão a Abimelec, rei de Gerara, sobre o pecado que cometia com Sara. Ainda deu o sonho premonitório ao Faraó para que José interpretasse e tornasse o Egito grande.  E ainda fala ao adivinho Balaão, e se achou pouco, faz a jumenta dele falar (Nm 22). E ordena a Jonas que vá salvar Nínive.

E ainda conduziu o leproso general sírio Naamã para ser curado por Eliseu, que executou um prenúncio do batismo de purificação de João Batista, no rio Jordão (2 Rs 5). Deus ainda tornou Ciro seu ungido para ser instrumento de salvação do povo (Is 45,1–6). Nos tempos de Daniel, Deus deu visão também a Nabuconosor, e manifestou-se a Baltazar.

No Novo Testamento, Deus também se manifesta aos gentios. Inspira e orienta os Magos do Oriente (Mt 2,1–12), que Tertuliano e, depois, Orígenes interpretam como sendo três, os nomes só aparecem no século VI. E foi um centurião romano que teve sua fé elogiada por Jesus (Mt 8): Em verdade vos digo, não encontrei semelhante fé em ninguém de Israel. Por isso que multidões virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão no Reino dos céus com Abraão, enquanto os filhos do Reino serão lançados nas trevas.

Depois, vemos uma cananeia que arranca de Jesus a cura da filha dela (Mt 15,21-28). E uma samaritana que recebe a Palavra de Jesus (Jo 4,1-42). E, ainda, o centurião Cornélio que tem a visão para procurar Pedro (At 10,1-48). E para finalizar, o Espírito Santo é dado aos gentios em Antioquia (At 11,19-26) onde surge a primeira grande comunidade gentia cristã.

O Natal é uma memória da eterna pergunta de Jesus: ágapas me?