17/12/2025 – 1h57

Desde 15 de dezembro de 2022 deixei de escrever como um intimista predestinado a habitar, para sempre, um universo incompreendido. A única certeza que resiste é esta: somos partículas de átomos somadas ao acaso, formando uma identidade fragmentada. Existimos pelas escolhas que fazemos e pelas decisões que nos aprisionam.

O criador concede à criatura a maldição das perguntas sem resposta, enquanto nos reveste de um corpo imperfeito, condenado a se desfazer com o tempo, como se a alma ainda não tivesse sido autorizada à eternidade. Por que, então, o maniqueísmo? Se o poder é sublime, por que não nos poupar do mal e exilar os anjos rebeldes em outra dobra da galáxia, talvez em um planeta frio como Marte?

Fui comissionado a sentir mais do que a crer. Os desejos comprimem a existência até o limite, sufocam o sangue, corrompem glóbulos brancos e vermelhos e fabricam uma leucemia sem registro, invisível à ciência. Vivo sob uma contagem regressiva silenciosa, marcada pela intolerância, sempre em guerra com os semelhantes, mesmo quando estão próximos demais.

Não nasci para ser amado. Tenho consciência plena dessa sentença, válida em todas as dimensões, neste tempo e em quaisquer espaços paralelos. Meu estágio é a indiferença absoluta entre a vida e a morte. Habito a dispensação de um artífice que arquitetou esta engrenagem complexa, infinita em algoritmos, regida por uma inteligência ainda não revelada.

Amor, tristeza, alegria, dor, paz — e qualquer outro fruto do espírito — não me alcançam. Minha insignificância se dissolve diariamente na frivolidade que flutua sobre a superfície dos sentidos limitados. Sei que não pertenço a este mundo nem às suas regras. Tento decifrar a equação que me define, e falho. Não se trata de filosofia conhecida. É outra coisa. Ou nada.

Já fui introspectivo. Hoje sou apenas o vestígio desse tempo. Minha idade é de criança, não por inocência, mas porque restam, pela estatística da carne, algo entre dez e quinze anos nesta terra de purgatório. Ninguém pode me validar. A culpa não se terceiriza. Tampouco os acertos. Tudo o que vivo, vivo em excesso.

Plantei uma árvore. Já estive preso. Escrevo este texto. Isso é o que há.
E, por ora, basta.

2h28