
O município de Manga, no rio São Francisco, revive uma tradição secular trazida da Europa pelos padres capuchinhos e mantida até hoje entre as populações ribeirinhas e comunidades remanescentes de quilombos. A Encomendação das Almas é um ritual católico que acontece na Quaresma e está registrados no catálogo “Celebrações e Ritos da Semana Santa em Minas Gerais”, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais.
No Quilombo Justa II, membros da comunidade saem durante as madrugadas, rogando pela alma dos amigos e parentes que já se foram e também por todas as almas do purgatório, pelas almas dos falecidos enterrados no cemitério, dos afogados e dos assassinados. Eles se vestem com túnica branca, cobrindo todo o corpo, deixando somente o rosto exposto, e conduzem suas matracas, instrumento musical de madeira que produz som agudo e uma cruz.
O ritual também é celebrado em várias cidades de Minas, como São José da Barra e Delfinópolis, mas com o nome de Folia das Almas. Em Delfinópolis, o rito foi definido como um conjunto de cantos lamentosos, de caráter fúnebre, em que os participantes rezam pelas almas de seus familiares já falecidos ou pelas almas daqueles para os quais se considera a necessidade de orações.
Já cadastro do Iepha feito por Delfinópolis informa que o rito se caminha durante a noite em visita às casas, capelas, monumentos, cruzeiros e igrejas, para rezar em memória das almas na região do Vale da Gurita e da Canastra.
Pronunciando orações e com cantos acompanhados pelo som de matracas, berra-bois, réu-réu e o apito do capitão, a tradição resiste ao longo de anos. A Folia das Almas, portanto, correlaciona-se com a Encomendação das Almas, chamando atenção a diferença entre as indumentárias de cada uma.
Contam os supersticiosos que, quando essa tradição se cumpre e o cortejo está às ruas, visitando as casas, cemitérios, igrejas, cruzeiros e encruzilhadas, às altas horas da noite, não é bom agouro abrir portas ou janelas, sob pena de as almas penadas entrarem pelas casas adentro. Na dúvida, não experimentem!
FONTE: O TEMPO