Morre, aos 82 anos, o cantor e compositor carioca Jards Macalé

“Cante, cante, cante. É assim que sempre lembraremos do nosso mestre, professor e farol de liberdade”, completa a nota.

O cantor e compositor carioca Jards Macalé. (Foto: Arquivo / Leo Lara / Universo Produção) -

Morreu nesta segunda-feira (17), aos 82 anos, o cantor e compositor Jards Macalé. Autor de sucessos como “Vapor Barato”, imortalizado na voz de Gal Costa, o artista estava internado em um hospital na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde fazia um tratamento contra um enfisema pulmonar.

Nas redes sociais de Macalé, uma nota confirmou a morte do artista. De acordo com o texto, antes de ter uma parada cardíaca, o compositor chegou a acordar cantando de uma cirurgia. “Cante, cante, cante. É assim que sempre lembraremos do nosso mestre, professor e farol de liberdade”, completa a nota. Ainda não há detalhes sobre o funeral.

Conhecido como o “anjo torto” da MPB, Macalé construiu uma carreira marcada pela ousadia, pela recusa aos padrões comerciais e pela defesa marcante da liberdade criativa. Desde sua estreia nos anos 1960 — com a primeira composição gravada por Elizeth Cardoso — até os últimos trabalhos, como o álbum Besta Fera (2019), sua obra sempre desafiou convenções e abraçou a experimentação.

“Meu trabalho atravessou o tempo. Lidar com esse público é lidar com a minha segunda juventude. Espero que sempre haja surpresas. Estou sempre pensando em alguma coisa divertida para fazer”Jards Macalé

Foi em 1969, com a icônica apresentação de “Gotham City” no Festival Internacional da Canção, que Macalé se revelou ao grande público como uma força disruptiva. Em 1972, ele lançou seu álbum homônimo, considerado um marco por misturar samba, rock, jazz, baião e blues com uma estética crua e poética. Clássicos como “Hotel das Estrelas”, “Mal Secreto” e “Vapor Barato” se tornaram hinos da contracultura.

“Não quero mais ser moderno, quero ser eterno”, disse Jards Macalé

Desde o lançamento do primeiro disco, o compacto Só Morto, em 1970, Jards Macalé dizia ter experimentado vários momentos de dor e de alegria, mas apontou que também cresceu com eles. O compositor afirmava que não gostaria de voltar ao passado.

“Muito pelo contrário. O tempo segue inexoravelmente. Cada tempo no seu tempo. Todos os momentos marcaram a minha trajetória. Estive e continuo estando com músicos maravilhosos que enriquecem minha arte. Minha música está impregnada pelo cinema, artes plásticas, teatro, dança, poesia. Tudo no âmbito da invenção”, comentou Macalé, em seu aniversário de 70 anos.

Parceiro de poetas como Waly Salomão, Torquato Neto e José Carlos Capinan, Macalé foi também um pensador da arte. Em uma de suas frases mais lembradas, disse: “Eu não quero mais ser moderno, quero ser eterno”.

FONTE: GAZETA DO POVO