Lucro do Banco do Brasil despenca 60% com aumento da inadimplência de brasileiros e agro

O setor enfrenta uma onda de recuperações judiciais após perdas na última safra de grãos, cenário que freou a concessão de novos empréstimos ao segmento entre abril e junho.

- Banco estatal diz que inadimplência aumentou entre pessoas físicas e no agronegócio, atingindo lucro do segundo trimestre. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O Banco do Brasil registrou um lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões no segundo trimestre de 2025, resultado 60% inferior ao do mesmo período do ano passado. O desempenho, divulgado nesta quinta (14), ficou abaixo das expectativas de analistas e reflete o aumento considerável da inadimplência entre pessoas físicas e no agronegócio.

A taxa de inadimplência total subiu de 3% para 4,21% da carteira em 12 meses. No agronegócio, responsável por 33,8% do crédito total do banco, o índice de atraso acima de 90 dias chegou a 3,49%, alta de 0,45 ponto percentual no trimestre e de 2,17 pontos no ano. O setor enfrenta uma onda de recuperações judiciais após perdas na última safra de grãos, cenário que freou a concessão de novos empréstimos ao segmento entre abril e junho.

“Apesar do cenário positivo para a safra no Brasil em 2025, com uma colheita recorde, e do elevado percentual de garantias nessa carteira, há um estoque de operações que não foram pagos na safra 2024/2025, inclusive, por conta das recuperações judiciais no setor –que exigem maior provisionamento sob a nova regulação”, informou o banco no balanço.

No Plano Safra 2024/2025, o BB desembolsou R$ 225,8 bilhões, mantendo-se como principal financiador do campo. Para 2025/2026, a previsão é de até R$ 230 bilhões, sendo R$ 54 bilhões para pequenos e médios produtores e R$ 106 bilhões para agricultura empresarial, cooperativas e agroindústrias.

Entre pessoas físicas, o atraso subiu de 4,81% para 5,59% em um ano, em uma carteira que representa 26,3% do total. Um dos destaques é o crédito consignado CLT, lançado em março como uma das bandeiras do governo federal.

Desde então, foram liberados mais de R$ 7 bilhões nessa linha, com o BB detendo cerca de 24% do mercado. No caso das empresas, o provisionamento para perdas mais que dobrou no trimestre, saltando de R$ 1,7 bilhão para R$ 4,26 bilhões, enquanto a concessão de empréstimos cresceu apenas 1,8%. A inadimplência do segmento passou de 4,06% para 4,18% no trimestre, ante 3,38% um ano atrás.

A presidente do BB, Tarciana Medeiros, minimizou a queda do lucro e afirmou que o ano de 2025 é de “ajuste para aceleração do crescimento” e projetou lucro entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões no ano.

“Seguimos com investimentos estruturantes para geração de riqueza aos nossos acionistas, oferecendo a melhor experiência e soluções mais adequadas aos nossos clientes”, disse.

A margem financeira bruta do Banco do Brasil no período foi de R$ 25,1 bilhões, com crescimento trimestral de 4,9%, mas recuo anual de 1,9%. A carteira de crédito totalizou R$ 1,3 trilhão em junho, alta de 11,2% em um ano e de 1,3% na comparação com março.

Apesar do crescimento no volume de crédito, a necessidade de provisionamento para perdas esperadas (PDD) disparou, alcançando R$ 15,9 bilhões — 104% a mais que no mesmo período de 2024.

Esse salto no provisionamento foi impulsionado por uma resolução do Banco Central que obriga os bancos a reservar valores para créditos que podem não ser pagos, e não apenas para os já vencidos. O BB calculou perdas esperadas de R$ 7,9 bilhões no agronegócio, R$ 4,8 bilhões entre pessoas físicas e R$ 4,3 bilhões nas empresas.

Com a piora nos números, a diretoria reduziu a previsão de distribuição de dividendos. A projeção inicial era de repasse entre 40% e 45% do lucro, mas caiu para 30%. Com base na nova estimativa, os dividendos devem ficar entre R$ 6,3 bilhões e R$ 7,5 bilhões.

FONTE: GAZETA DO POVO