Infestação de ratos em SP: cidade tem uma queixa a cada hora

Levantamento do Metrópoles com base nos dados da prefeitura mostra que a capital paulista teve crescimento de queixas entre 2023 e 2024

Guí Primola / Arte Metrópoles -

São Paulo – Eles estão em ruas, praças e avenidas da cidade. Sobem em lixeiras, se escondem em matagais próximos a córregos, e entram em casas, preocupando moradores, que espalham venenos e até adotam gatos para lutar contra.

Os ratos têm incomodado cada vez mais os moradores da capital paulista. Ou pelo menos é o que indicam as reclamações registradas no Portal 156, da Prefeitura de São Paulo.

Um levantamento feito pelo Metrópoles com base nos dados da administração municipal mostra que, em 2024, a prefeitura recebeu, em média, um pedido por hora para verificar locais com infestação de ratos.

Foram 8.788 solicitações feitas no 156, um crescimento de 12,6% entre 2023 e 2024. Em 2023, foram 7.804 pedidos.

A Rua do Hipódromo, no Brás, foi o endereço campeão de reclamações sobre o tema nos canais da prefeitura em 2023 e ficou entre as três primeiras em 2024. Por lá, os comerciantes apontam um terreno baldio no cruzamento da rua com a Avenida Alcântara Machado como a sede das tocas dos animais.

“Eu compro diariamente veneno. A gente mata, mas eles voltam, porque são muitos”, diz Antônio da Silva, 72 anos, dono de um comércio na rua.

Atualmente, o endereço com mais solicitações para infestação de ratos na cidade é a Rua Samoa Ocidental, no Jardim Pantanal, zona leste. A região é alvo de constantes alagamentos.

Na zona sul, o distrito do Campo Limpo é um dos líderes em pedidos contra as infestações, e só perde para Sapopemba, na zona leste. Moradora do bairro há duas décadas, Geralda Alves Batista, 65 anos, já se cansou de ver os bichos passando no córrego ao lado de sua casa, na Rua Vitoriano de Oliveira. “Antes de ontem mesmo, a minha menina falou que tinha um rato ali fora”.

Ela diz que o lixo jogado no rio vira um atrativo para os bichos. “O pessoal bota comida e aí eles vêm comer”, afirma

Para se livrar do problema, a vizinha dela, Edma Dias, 47 anos, adotou um gato. O animal tem ajudado a família a dormir melhor – Edma conta que, logo que se mudou para a casa, há mais de 15 anos, acordava durante a noite com os ratos passando em cima das telhas.

Mesmo assim, nos dias de enchente, os animais ainda saem aos montes do rio. Ela diz que a prefeitura joga veneno, mas que o trabalho não é suficiente e cobra mais ações.

“Quando eles colocam os produtos [com veneno] dá uma melhorada. Mas já tem mais de ano que a prefeitura não tira o mato daqui. Por causa disso, nós estamos com mais infestação de ratos e de outros bichos”, afirma Edma.

Há quatro quilômetros dali, perto da Rua Diogo Martins, há quem nunca tenha visto um funcionário do Controle de Zoonoses.

Lucirene de Oliveira, 57, é uma delas. “Todo dia, eu boto remédio de rato e todo dia amanhece com rato morto”. Na rua Caraíva, moradores de um condomínio contaram ao Metrópoles que os ratos na região diminuíram depois que os próprios condôminos espalharam armadilhas nas portarias.

Largo dos ratos

Na zona oeste, o distrito de Pinheiros concentra reclamações na Rua Fernão Dias, um dos acessos ao Largo da Batata. Quem passa pela praça não tem dúvidas de que o endereço está infestado.

À noite, ratos de todos os tamanhos atacam as lixeiras da praça, assustando pedestres que cruzam o Largo da Batata, ao lado da estação Faria Lima, da linha 4-Amarela do metrô. Veja:

As tocas são facilmente visíveis durante o dia. “A moradia deles é debaixo da árvore. O rato tem mais de um palmo [de tamanho], não tô exagerando, não”, conta Nilzete Batista, que vive próximo ao Largo. Ela diz que o problema piorou depois que alguns comércios da região fecharam as portas.

O catador de materiais recicláveis Esdras Gonçalves, de 42 anos, diz que a sujeira nas ruas atrai os animais.

“Aqui tem muita marmita jogada no chão. O pessoal ao invés de jogar no lixo, às vezes joga no chão e os ratos adoram”. Para ele, a prefeitura, além de tentar conscientizar a população, deveria recolher o lixo mais rapidamente.

A limpeza, de fato, deixa a desejar no endereço que é ponto conhecido de bares e restaurantes, em Pinheiros. A reportagem do Metrópoles flagrou, por vários dias seguidos, lixeiras superlotadas sendo alvo dos ratos.

Enquanto o problema não é resolvido, dois dos animais já receberam até apelido de quem trabalha e mora próximo ao Largo. Uma funcionária da empresa de ônibus que atua ali nomeou um deles, “o mais fofinho”, de François – uma referência aos ratos franceses.

Já o mais rápido dos bichos ganhou o apelido de “Ligeirinho”, esse dado pelos moradores de rua que vivem no Largo. O Metrópoles viu quando o Ligeirinho deu as caras. O animal, rápido demais, correu antes que a reportagem conseguisse fotografá-lo.

Outro lado

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), afirmou que a cidade tem um programa para controle de roedores e leptospirose.

“As áreas com indicadores epidemiológicos de leptospirose são mapeadas, e nessas regiões é realizado um controle sistemático de infestação. Além disso, há um trabalho de colaboração com as subprefeituras locais para manter a infraestrutura urbana e a coleta de lixo”, diz a nota.

A pasta afirma que raticidas são aplicados periodicamente nos locais afetados por roedores e disse que encaminhará equipes aos locais citados pela reportagem para “realizar vistorias e tomar as providências necessárias”.

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) termina o texto dizendo que lugares com acúmulo de lixo favorecem a proliferação de roedores, e que a ação mais importante para evitar a multiplicação dos animais é armazenamento e descarte correto do lixo.

FONTE: METRÓPOLES