Em 1994, durante um projeto entre o INPE e universidades parceiras da NASA, meu chefe pediu que eu levasse um pesquisador americano ao Banco do Brasil para que ele trocasse dólares por reais. Fomos conversando sobre a situação dos imigrantes mexicanos nos Estados Unidos.
Ponderei a ele que os EUA eram a Roma moderna que como a de antigamente os bárbaros entravam no império em busca de uma vida digna, como faziam os mexicanos. Ele ponderou e concordou comigo.
Pessoas buscam melhores oportunidades de trabalho digno e uma remuneração melhor. E todos que entram nos EUA ilegalmente conseguem algum tipo de emprego, ou subemprego, que mesmo assim ainda é melhor do que tinham nos países de origem.
Desde Hamurabi, com a Lei de Talião (1772 aC), ninguém pode sofrer punição injusta, além do mal que causou. E qual o mal que causa alguém que invade um país em busca de trabalho e é recebido por cidadãos que o contrata? Certamente, é mais uma irregularidade que um crime. Por Hamurabi, não se algema, nem se acorrenta pessoas que não representam perigo e não tenham histórico de violência.
O que vimos no último dia 24 de janeiro foi chocante e surpreendente, muitos cidadãos brasileiros não perigosos foram deportados algemados e acorrentados, desfilando diante de toda a nação. Há despatriota que diz que é assim que os EUA tratam quem quer que seja, mas não é verdade, não é o que nossos olhos testemunharam, tratam assim quem não seja americano. Justamente o país que se proclama defensor da Democracia, do Direito e da Justiça,
E, ainda, o país cujo povo se declara cristão, escolhe não entender o que disse Deus a Moises: Não maltratarás o estrangeiro e não o oprimirás, porque foste estrangeiro no Egito (Êx 22, 20). E Deus ainda reforçou para que tivessem empatia: Não oprimirás o estrangeiro, pois conheceis o que sente o estrangeiro, vós que o fostes no Egito (Êx 23, 9). E ainda prega misericórdia com o faminto estrangeiro: Não respigareis tampouco a vossa vinha, nem colhereis os grãos caídos no campo. Deverá deixar isso para o pobre e o estrangeiro. Eu sou o Senhor, vosso Deus (Lv 19, 10).
E ainda diz Pedro (1Pd 2,11-12): Caríssimos, rogo-vos que, como estrangeiros e peregrinos… Essas duas palavras em grego também descrevem a situação dessas pessoas. Estrangeiros (παροίκους, paroikois, palavra que gerou em português paróquia, um lembrete perene de nossa passagem curta por esta existência) aí significa estrangeiros residentes, que tinham o direito de residência, porém, não de cidadania. Já peregrinos (παρεπιδήμουςparepidemois) significa estrangeiros sem direito a residência. Estes não possuíam qualquer direito. Provavelmente, parte da comunidade petrina estivesse nessa condição social. Paroikois é substituída por xenoi (ξένοι) em Hebreus (7,14) quando se refere a Gênesis (23,4).
Pedro usa os termos que lembram os israelitas do Antigo Testamento como migrantes ou estrangeiros no Egito e na Babilônia, como teria sido a realidade desses cristãos, certamente é a experiência da fé diante de um mundo indiferente aos ensinamentos de Jesus.