
Um estudo recente colocou a inteligência artificial mais próxima do corpo humano do que nunca — literalmente. Cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego, em parceria com o Scripps Research Translational Institute, conseguiram treinar um modelo de IA capaz de prever uma gravidez com até 92% de precisão, utilizando apenas dados de dispositivos como o Apple Watch.
A descoberta, que parece saída de um episódio futurista, foi publicada em julho em um artigo revisado por pares. O trabalho fez parte do projeto Apple Heart and Movement Study, e contou com dados anonimizados de mais de 30 mil mulheres com idades entre 18 e 44 anos, monitoradas por iPhones e Apple Watches ao longo de dois anos.
Temperatura, sono e coração entregam sinais precoces
O modelo, chamado Wearable Behaviour Model (WBM), não se baseia apenas em batimentos cardíacos ou temperatura corporal isoladamente. Ele cruza múltiplas métricas — como padrões de sono, mobilidade, ritmo cardíaco e até variações térmicas sutis — para formar um retrato detalhado do corpo em mudança. Entre os 430 casos de gestação analisados, a IA foi capaz de detectar indícios de gravidez, em média, nove dias antes de um teste tradicional dar positivo.
O segredo está nas pequenas alterações que ocorrem no corpo logo após a concepção. A temperatura da pele, por exemplo, tende a se manter elevada por mais tempo do que em ciclos menstruais regulares. Padrões de sono e até o nível de atividade física também se alteram. São sinais quase imperceptíveis a olho nu, mas que o modelo de IA consegue identificar com alta precisão.
Não é um teste de gravidez oficial — ainda
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores são claros: o Apple Watch não é um teste de gravidez. O estudo é uma prova de conceito sobre o potencial de modelos fundacionais de comportamento aplicados à saúde reprodutiva. Nenhuma dessas funcionalidades está disponível atualmente no sistema da Apple, nem possui aprovação de agências regulatórias como a FDA (Food and Drug Administration).
No entanto, o avanço é visto como um passo significativo para o futuro dos cuidados preditivos baseados em wearables. Segundo os autores, a tecnologia pode abrir caminho para sistemas de alerta precoce para outras condições, como infecções, distúrbios metabólicos e doenças autoimunes.
Privacidade e ética no centro do debate
O estudo usou apenas dados autorizados por usuárias voluntárias. Ainda assim, o avanço acende um alerta sobre os limites éticos e de privacidade no uso de dados pessoais para diagnósticos automatizados. Especialistas em bioética defendem que qualquer inovação desse tipo deve vir acompanhada de regulação clara, transparência nos algoritmos e consentimento informado.
Enquanto isso, a Apple segue apenas como fornecedora das ferramentas tecnológicas — não como autora ou responsável direta pela pesquisa. A empresa, que tem ampliado recursos voltados à saúde feminina, como o rastreamento do ciclo menstrual, ainda não comentou oficialmente o estudo.
FONTE: ES360