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Em 17 de abril de 2023, após analisar e escrever sobre o recém-lançado ChatGPT, alertei senadores e deputados de que as inteligências artificiais (IA) começavam a impor um novo paradigma à nossa sociedade. Era preciso entender o que estava acontecendo e prever as revoluções em curso. Sugeri que fossem criados grupos de estudo para avaliar e se preparar para esse futuro incerto — especialmente no que diz respeito ao povo trabalhador. Não sei que iniciativas foram tomadas.


Em 22 de julho daquele ano, sugeri ao presidente Lula: depois da polêmica envolvendo cientistas sobre as IAs, eu mesmo apresentei sugestões ao Congresso e ao próprio INPE sobre o tema. Com mais amadurecimento, acredito que essa seja uma pauta que exige ação governamental enquanto ainda há tempo — tanto para o entendimento quanto para o uso adequado da tecnologia. Sugestões:

  1. O país precisa adotar uma ação coordenada, utilizando seus cientistas e tecnologistas para identificar formas de aplicar as IAs disponíveis;
  2. E também para desenvolver inteligências artificiais próprias, confiáveis, adaptadas à realidade brasileira e que tenham o português como língua nativa.


Certamente, não fui o único a acionar políticos sobre essa demanda tão importante — e as ações começaram agora. O governo federal criou o Grupo de Trabalho (GT) gestor do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA). O grupo terá duração de quatro anos e será composto por representantes de 15 órgãos e entidades, sob coordenação do Ministério da Ciência e Tecnologia


O PBIA foi lançado em julho do ano passado e prevê um investimento de R$ 23 bilhões em quatro anos. Desse total, R$ 13,79 bilhões serão destinados à inovação empresarial — para o desenvolvimento de soluções de IA voltadas a desafios da indústria brasileira (incluindo comércio e serviços), aumento da produtividade, fomento e aceleração de startups especializadas em IA, além da incorporação e retenção de talentos na área. Também está prevista a criação de datacenters “verdes” de alta capacidade, alimentados por energias renováveis e otimizados para o uso sustentável de recursos hídricos.


Outros R$ 5,79 bilhões serão destinados à aquisição de um supercomputador “top 5” mundial, que impulsionará pesquisas de ponta, o desenvolvimento de processadores de IA de alto desempenho, e modelos de linguagem em português, entre outros.


Para a melhoria dos serviços públicos — incluindo a simplificação e automatização de processos de gestão e prestação de contas, gestão de pessoas no serviço público e patrimônio da União — serão destinados R$ 1,76 bilhão. Para a capacitação de profissionais em IA, a fim de suprir a crescente demanda por mão de obra qualificada, o plano prevê R$ 1,15 bilhão


Está previsto ainda o desenvolvimento de um sistema baseado em inteligência artificial para previsão de eventos climáticos extremos com alto grau de confiabilidade, específico para as características brasileiras. Isso incluirá o aprimoramento do modelo acoplado oceano-atmosfera BESM-INPE


Ao que me parece, o governo encaminhou bem as frentes produtiva e governamental. No entanto, faltou algo extremamente importante: o setor militar. Os parlamentares e o governo precisam se organizar urgentemente para incluir esse setor na agenda estratégica de inteligência artificial.