Geração em crise: taxa de suicídio entre jovens cresce 6% no Brasil

Levantamento da Fundação Oswaldo Cruz, aponta que a taxa de suicídio entre crianças e adolescentes cresceu 6% ao ano no país entre 2011 e 2022

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Setembro Amarelo é o mês de prevenção ao suicídio e, neste contexto, é essencial olhar com atenção para o aumento de casos de depressão entre crianças e adolescentes no Brasil. Um recente estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, aponta que a taxa de suicídio entre jovens brasileiros cresceu 6% ao ano entre 2011 e 2022.

“Estima-se que, hoje, 15% das crianças e adolescentes sofram algum transtorno, o que é muito preocupante. Podemos tentar entender esse fenômeno falando de tendências globais, que são mudanças sociais, econômicas e culturais, que provavelmente estão piorando a saúde mental desta geração”, disse a médica neurocirurgiã pediátrica e pós graduada em psiquiatria infantil, Larissa de Sousa.

Recessão econômica é outra tendência, pois as incertezas na economia afetam os pais e, com isso, o ambiente familiar. Além disso, há incerteza em relação ao futuro, com dados alarmantes sobre colocação no mercado de trabalho, aquecimento global, epidemias. Falta de suporte social é outra hipótese. Inclusive, este enfraquecimento de redes de apoio, que também gera solidão, pode ser explicado pelas mudanças nas estruturas familiares e o período mais longo da transição da adolescência para a idade adulta. “Também temos uma geração que dorme pior por causa do uso excessivo de telas e sabemos que a má qualidade do sono afeta a saúde mental”, completa Larissa.

Diante deste cenário, a especialista alerta para a importância crucial da identificação precoce desses transtornos para oferecer suporte adequado e evitar complicações na vida adulta. “Familiares, amigos, professores e comunidade devem estar atentos a mudanças bruscas de comportamento de crianças e adolescentes. Em especial, a comunicação entre escola e família é essencial para identificar essas alterações precocemente. Um ambiente acolhedor e sem julgamentos faz toda a diferença”, explica.

Geralmente, o tratamento dos transtornos mentais na infância e adolescência envolve o trabalho de um equipe multiprofissional, formada por psicólogos, psiquiatras, pediatras, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos. A psicoterapia é uma ferramenta importante para ajudar os jovens a compreender e lidar com suas emoções e dificuldades. Em casos moderados, o uso de medicação pode ser necessário. Entretanto, o foco é priorizar intervenções que envolvam mudanças no dia a dia e incluam uma rotina saudável de sono e alimentação, prática de esportes e momentos de lazer, estabelecimento de limites claros e melhoria nas relações familiares. 

“O Setembro Amarelo nos lembra que precisamos nos manter próximo e vigilante, bem como criar hábitos de trocas saudáveis entre os familiares, já que pode ajudar a prevenir até mesmo os quadros mais graves, como de automutilação e tentativas de suicídio”, finaliza a neuropsicopedagoga, Pollyana Fiorotti. 

Médica neurocirurgiã pediátrica e psiquiatria