
O prefeito de Cachoeiro, Theodorico Ferraço (PP), parece preparar o tabuleiro para mais uma jogada ousada: usar seu peso político para colocar o vice-prefeito Júnior Corrêa como opção a deputado federal, em dobradinha com a esposa, a deputada Norma Ayub. A ideia, que já circula nos bastidores, revela tanto a força quanto os dilemas do grupo Ferraço.
De um lado, o cálculo é lógico. Corrêa, ainda sem grande expressão estadual, precisa de apadrinhamento para dar o salto. Nada mais natural do que herdar parte do capital político de Ferraço, que ainda domina o eleitorado cachoeirense com mão firme. Norma, por sua vez, carrega experiência, votos consolidados e trânsito em Brasília. A união, no papel, pode parecer estratégica: garantir continuidade do clã em dois nomes fortes e manter influência dobrada em Brasília.
Mas há riscos. O eleitorado pode enxergar na “dobradinha familiar” uma concentração excessiva de poder em torno de um mesmo grupo. Isso, em tempos de desconfiança com a política tradicional, pode se transformar em munição para adversários que acusam Ferraço de perpetuar seu império político. Além disso, Júnior Corrêa ainda carece de densidade eleitoral fora de Cachoeiro: pesquisa pode até revelar viabilidade, mas dificilmente garantirá musculatura sem forte investimento regional.
Ao insistir nessa equação, Ferraço coloca seu prestígio em teste. Se Corrêa despontar, mostrará que o prefeito ainda dita as regras no Sul capixaba. Se fracassar, ficará claro que o clã político deve seguir orbitando em torno do nome já consolidado de Norma Ayub.
No fim, a estratégia pode ser lida como um movimento de transição: Ferraço aposta que é hora de renovar seu grupo, mas ainda depende do carisma e da trajetória de Norma para sustentar essa renovação. O problema é que, na política, nem sempre as famílias se somam: às vezes, se sobrepõem e se desgastam.