Feriados religiosos em um Estado laico: o paradoxo que persiste

Por Jackson Rangel

O Brasil insiste em carregar no calendário um peso simbólico que não condiz mais com a sua estrutura institucional. O Estado é laico, porém a maioria dos feriados nacionais, estaduais e municipais nasce do berço religioso, sobretudo católico. A contradição se impõe. A folga ignora fronteiras de fé, alcança quem é católico, quem não é religioso e até quem nunca teve vínculo com qualquer tradição espiritual. A lógica do descanso virou um costume herdado de quando a Igreja Católica determinava ritmos, moldava reinados e ditava a cadência social.

Ao mesmo tempo, o país paga o preço econômico desses rituais. A cada ano, empresas calculam perdas com “enforcamentos” e paralisações em dias estratégicos. Carnaval, Páscoa e Semana Santa, por exemplo, desmontam semanas inteiras dependendo de onde caem no calendário. A produção desacelera. O comércio oscila. A rotina pública se arrasta. Enquanto isso, a discussão sobre modernizar o sistema de feriados segue empurrada para depois, como se estivéssemos presos a um passado que insiste em se impor pela força da tradição.

Além disso, a sociedade já não se reconhece plenamente nesses marcos simbólicos. O pluralismo religioso cresceu, a secularização avançou e novas identidades disputam espaço. Mesmo assim, o calendário continua preso ao imaginário católico, como se o tempo nacional ainda fosse regulado pela liturgia. O resultado é um calendário público que não dialoga com o país real, não reflete sua diversidade e compromete sua dinâmica econômica.

Feriados nacionais de 2026

A seguir, os feriados nacionais oficiais, todos válidos para 2026:

  1. 1º de janeiro – Confraternização Universal (quarta-feira)
  2. 16 de fevereiro – Carnaval (segunda)
  3. 17 de fevereiro – Carnaval (terça)
  4. 18 de fevereiro – Quarta-feira de Cinzas (ponto facultativo até 14h)
  5. 3 de abril – Sexta-Feira Santa
  6. 5 de abril – Páscoa (domingo)
  7. 21 de abril – Tiradentes (terça-feira)
  8. 1º de maio – Dia do Trabalho (sexta-feira)
  9. 4 de junho – Corpus Christi (quinta-feira – ponto facultativo)
  10. 7 de setembro – Independência do Brasil (segunda-feira)
  11. 12 de outubro – Nossa Senhora Aparecida (segunda-feira)
  12. 2 de novembro – Finados (segunda-feira)
  13. 15 de novembro – Proclamação da República (domingo)
  14. 25 de dezembro – Natal (sexta-feira)

O país que avança e o calendário que fica

Enquanto o Brasil tenta se posicionar como economia moderna, inovadora e produtiva, mantém um calendário ancorado em práticas medievais. A questão não é abolir crenças, mas separar o que pertence à esfera do Estado e o que deve permanecer no foro privado. Renovar o calendário seria um passo simbólico rumo à coerência institucional. Continuar como está apenas reforça o paradoxo: um Estado laico submetido a um calendário confessional que paralisa o país sem reflexão crítica.

O debate precisa sair da sombra da tradição e entrar no campo da racionalidade. Caso contrário, 2026 será apenas mais um ano em que o tempo público seguirá obedecendo a liturgias antigas, enquanto a sociedade real pulsa em outro ritmo.