Família contesta nova acusação contra Marcinho VP e aponta contradição

Preso há mais de 15 anos, Márcio dos Santos Nepomuceno voltou a ter seu nome citado em uma nova investigação da Polícia Civil do Rio

- Marcinho VP

Preso e isolado em um presídio federal de segurança máxima há mais de 15 anos, Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP, voltou a ter seu nome citado em uma nova investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro. O caso mira supostos esquemas de roubo e receptação de veículos ligados ao Comando Vermelho (CV).

A defesa, no entanto, contesta a validade das acusações e levanta um questionamento: qual é a eficácia do regime federal, se mesmo sob vigilância extrema, os presos continuam sendo responsabilizados por fatos externos?

A operação, conduzida pela 53ª DP (Mesquita) e pela 18ª DP (Praça da Bandeira), resultou em 20 mandados de prisão preventiva e inclui entre os citados nomes como o de Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP. Os dois estão em regime de isolamento máximo, com comunicações monitoradas e bloqueadas pelo Estado.

Defesa fala em estigmatização e incoerência

Em nota enviada à coluna Fábia Oliveira, a defesa de Marcinho VP afirma que o processo atual “reforça um ciclo de estigmatização e ignora a realidade concreta da custódia federal”.

“Marcinho VP está isolado há mais de 15 anos, sob vigilância constante. O próprio Estado que o mantém nesse regime agora o acusa de participar de um esquema fora da prisão. A pergunta que fica é: pra que serve o sistema federal, se mesmo assim o responsabilizam por fatos externos?”, diz o texto.

Os representantes jurídicos também destacam a fragilidade das acusações em termos de prova material. “A insistência em associar seu nome a crimes de fora das muralhas revela mais um episódio de criminalização pela imagem”, disseram.

O que diz a família

Em meio ao avanço da investigação, a família de Marcinho VP rompeu o silêncio e se pronunciou, questionando não apenas a narrativa judicial, mas o tratamento midiático dado ao caso.

Mauro, o Oruam, filho mais velho de Marcinho VP, desabafou: “Eu nasci vendo meu pai sendo tratado como um símbolo, não como uma pessoa. Hoje, como homem, dói perceber que ele continua sendo usado como peça de uma narrativa pronta, mesmo isolado do mundo há quase duas décadas. Eu me pergunto todos os dias: se ele está trancado sob vigilância máxima, o que mais esperam dele? É muito fácil apontar um nome que já está marcado. Difícil é olhar para os fatos com honestidade”, disse em nota.

Luca, filho mais novo do traficante, reforçou: “Eu cresci indo a presídio federal para ver meu pai por alguns minutos, sempre vigiado, sempre controlado. Sei o que é olhar nos olhos dele e ver cansaço, mas também dignidade. Ver ele ser citado em algo que ele nem teria como saber me revolta, mas mais do que isso, me entristece. A sensação é de que, para o sistema, ele nunca poderá apenas cumprir sua pena – ele precisa ser lembrado como culpado todos os dias, mesmo em silêncio”, falou.

A esposa, Márcia Nepomuceno, acrescentou: “Há mais de 15 anos nossa família vive sob vigilância, restrição e silêncio. Eu vejo meu marido sendo esvaziado de humanidade cada vez que o nome dele é explorado. Não estamos pedindo privilégios, estamos pedindo coerência. Se o Estado diz que ele está completamente isolado, como pode o mesmo Estado acusá-lo de comandar algo aqui fora? Não é justiça o que vemos, é conveniência. E eu, como mulher, mãe e companheira, não vou mais aceitar que transformem a nossa dor em espetáculo”.

Para a defesa, a nova citação seria mais uma tentativa de manter vivo um estigma, ainda que o próprio mecanismo estatal de isolamento impeça qualquer comunicação externa. “Se o Estado cria presídios federais para cortar a comunicação dos presos com o exterior, e mesmo assim diz que eles continuam mandando ordens, o problema não está no preso, mas no sistema”, resumiu um dos advogados.

FONTE: METRÓPOLES