
Um estudo conduzido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com o Instituto Serrapilheira, testou no Brasil um exame de sangue da empresa norte-americana Quanterix capaz de detectar alterações no cérebro causadas pelo Alzheimer com mais de 90% de precisão.
Atualmente, o Alzheimer é uma das principais causas de demência no mundo, onde já afeta mais de 6,7 milhões de pessoas apenas nos Estados Unidos, com uma estimativa de atingir até 13 milhões até 2050.
No Brasil, os métodos de diagnóstico do Alzheimer geralmente estão disponíveis apenas em centros de saúde privados e costumam ter custos elevados, o que agrava uma situação que já afeta milhões de pessoas no mundo. Com essa nova forma de detecção, porém, é possível que o cenário melhore nos próximos anos.
Como funciona o diagnóstico através do sangue?
Primeiramente, é importante entender que esse exame funciona como um apoio na detecção do Alzheimer, dentro do chamado diagnóstico assistido por biomarcadores, quando exames laboratoriais complementam a avaliação médica.
Realizado com 59 pacientes no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o estudo analisou a presença da proteína p-tau217 no plasma, conseguindo diferenciar indivíduos com e sem Alzheimer com precisão entre 94% e 96%.
Após o teste, a Iniciativa Brasileira de Biomarcadores para Doenças Neurodegenerativas (IB-BioNeuro) informou que pretende expandir o projeto para testes em larga escala no país. Atualmente, muitas tecnologias de detecção do Alzheimer não estão disponíveis no sistema público de saúde, e essa ferramenta poderia facilitar o diagnóstico em pessoas de baixa renda.
No entanto, somente após 24 meses, com investimento e testes em mais de 3 mil voluntários, será possível avaliar a viabilidade do uso em larga escala e encaminhar os resultados para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Quais são os exames disponíveis atualmente?
O diagnóstico do Alzheimer baseia-se principalmente na entrevista e no acompanhamento médico, que incluem a exclusão de outras doenças por meio de exames de sangue, de imagem, como tomografia ou ressonância magnética, e avaliação neuropsicológica.
Mas no âmbito clínico, existem alguns exames que ajudam a facilitar o diagnóstico do Alzheimer com base nas proteínas associadas à doença, chamadas beta-amiloide e tau.
Um desses exames é o PET-CT cerebral, que combina tomografia por emissão de pósitrons (PET) e tomografia computadorizada (CT) para avaliar a estrutura do cérebro. No entanto, esse método é muito caro para a realidade brasileira.
Além deste, existe também o exame do líquor, que analisa o cérebro e a medula espinhal, onde a partir disso, fornece informações sobre alterações no sistema nervoso e ajuda a identificar biomarcadores geralmente associados ao Alzheimer.
No entanto, nenhum desses testes garante sozinho a presença do Alzheimer. Eles funcionam como ferramentas auxiliares, usadas pelo médico para identificar sinais da doença, para assim, chegar a um diagnóstico.
Estudo recente também promete ajudar no diagnóstico do Alzheimer
Outro avanço recente no mundo da neurociência foi um estudo publicado neste mês de outubro na revista eBioMedicine, que revelou que o Alzheimer apresenta diversos padrões antes do desenvolvimento completo da doença.
Usando métodos de inteligência artificial e registros eletrônicos de saúde, cientistas da Universidade da Califórnia revelaram que, ao contrário do que se pensava, o Alzheimer não segue um único caminho derivado de doenças anteriores, mas pode surgir por quatro trajetórias distintas.
Esses caminhos são:
- Mental: o Alzheimer é precedido por problemas como ansiedade, depressão e hipertensão
- Encefalopático: o mais letal, associado a doenças cerebrais e metabólicas
- Neurodegenerativo: o mais conhecido, que envolve comprometimentos cognitivos leves e demência vascular
- Vascular: ligado a doenças circulatórias, anemia e problemas nas articulações
Isso também pode ajudar no diagnóstico precoce do Alzheimer, ao identificar qual trajetória a pessoa pode estar seguindo antes do desenvolvimento completo da doença.