
O ritmo cadenciado, as profecias entoadas em cânticos, a sagacidade do palhaço e as cores vivas das indumentárias. Essas são algumas das características marcantes da folia de reis, tradição católica que chegou ao Brasil pelos portugueses e que se espalhou por todo o país. No Espírito Santo não foi diferente: em terras capixabas existem diversas folias, principalmente no sul, região de origem dos grupos que estiveram presentes no Encontro de Folias de Reis de Burarama, realizado no último sábado (27), no distrito cachoeirense que dá nome ao evento.
O local foi cenário para a quinta edição do Encontro, que este ano reuniu folias de Cachoeiro e dos municípios de Atílio Vivácqua, Jerônimo Monteiro e Presidente Kennedy. O grupo anfitrião foi o Missão Divina, existente em Burarama desde 1999 e que possui Wilson Diniz Cecon como seu mestre (a história do Missão Divina está disponível no site (www.missaodivina.com.br).
Após a recepção dos grupos, os foliões se reuniram para discutir questões como cidadania e políticas públicas de apoio ao patrimônio imaterial e de incentivo à cultura. “Em eventos como este, é muito importante termos uma assembleia em que mestres, mestras e foliões tenham voz para conversar sobre a falta de financiamento e de apoio das municipalidades e a ausência de políticas de preservação do nosso patrimônio. A partir dessa troca de experiências, é possível pensar em caminhos para essas questões, não apenas a respeito das folias, mas também sobre todo o patrimônio imaterial brasileiro”, afirma Genildo Coelho Hautequestt Filho, coordenador do evento.

Na sequência, houve uma missa especial na Igreja São João Batista, presidida pelo Padre Wosley Guimarães Pansine, em que todos os grupos reverenciaram o Menino Jesus – afinal, segundo a tradição, as folias representam a jornada dos Três Reis Magos pelo deserto em busca de Jesus recém-nascido.
Em seguida, coroando a programação da noite, é chegado o momento das folias se dispersarem e iniciarem suas apresentações em diversas casas do distrito. É quando os moradores podem abrir as portas de suas casas para receber os foliões, que entram somente quando é permitido. Ali entoam seus hinos, abençoam o local e partem para outra residência, mas não sem antes o palhaço fazer suas brincadeiras com versos improvisados e o grupo experimentar as comidas que alguns moradores oferecem.
Segundo o mestre Wilson Diniz, da Folia Missão Divina, “nossa cultura e nossa cidade ganham muita força com projetos como este, pois estamos mantendo e fortalecendo a folia de reis na nossa comunidade e dando a oportunidade de as crianças crescerem vendo e vivenciando essa cultura, que tanto tem sido esquecida”.
O 5º Encontro de Folias de Reis de Burarama foi uma realização da Associação de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Cachoeirense e contou com o apoio do Instituto de Preservação do Patrimônio Cultural Ádapo. O projeto foi viabilizado com recursos do Funcultura, da Secretaria da Cultura (Secult), por meio do Edital 05/2024 – Valorização das Culturas Tradicionais do Espírito Santo. Esse evento tradicional também integra as atividades do Pontão da Associação de Salvaguarda, projeto contemplado pelo Edital 006/2024 – Fomento a Projetos Continuados de Pontões de Cultura, da Secult, por meio da Lei Cultura Viva. As ações da Associação de Salvaguarda podem ser acompanhadas pelo Instagram (www.instagram.com/patrimonioimaterial.ci) e pelo próprio site da entidade: www.patrimoniocachoeiro.org. Todos os links de perfis e canais de comunicação oficiais encontram-se em www.linktr.ee/patrimonioimaterial.ci.