
Pesquisadores da Western University e da University of Calgary, no Canadá, publicaram um novo estudo que lança luz sobre o mistério da persistência do HIV no organismo, mesmo quando controlado por terapia antirretroviral.
Eles descobriram que o HIV não se integra de forma aleatória no genoma das células infectadas, mas também adota padrões específicos para cada tipo de tecido — como sangue, cérebro e trato digestivo — o que permite ao vírus “se esconder” em zonas menos ativas do DNA, onde há pouca expressão de genes e menor ação do sistema imunológico.
No cérebro, por exemplo, a pesquisa observou que o HIV prefere zonas do DNA que estão em “modo silencioso”, fazendo com que a célula infectada funcione quase normalmente, sem despertar atenção imunológica.
Essa característica ajuda a explicar por que, mesmo com o uso de medicamentos antirretrovirais que reduzem a carga viral a níveis indetectáveis, o vírus pode voltar a se manifestar se o tratamento for interrompido.
O estudo aponta que os diferentes tecidos do corpo não são apenas “reservatórios” genéricos, mas ambientes com microcaracterísticas que moldam a forma de persistência viral — imunidade local, atividade genética, metabolismo e microambiente são fatores que parecem influenciar como o HIV permanece.
Do ponto de vista terapêutico, essa descoberta abre caminho para estratégias mais refinadas contra o HIV. Em vez de apenas focar na redução da carga viral no sangue, os cientistas agora consideram a necessidade de alcançar esses esconderijos específicos no corpo, possivelmente com medicamentos que atinjam áreas como o sistema nervoso central ou o trato gastrointestinal — onde o vírus parece adotar seu modo “furtivo”.
Além disso, a nova informação pode ajudar no desenvolvimento de abordagens combinadas que visem tanto ativar essas células latentes — para que o vírus seja exposto ao sistema imune ou a tratamentos — quanto eliminar ou silenciar os locais onde o vírus se esconde por longos períodos.
Embora esta ainda não seja a resposta completa para a cura do HIV, o estudo reforça que o combate ao vírus não é apenas uma questão de reduzir o número de partículas virais circulantes, mas também de entender e desbloquear os esconderijos internos nos tecidos do corpo.
FONTE: METROPOLES