Especialista revela sinais que podem indicar quadro de dislexia

Cerca de 5 a 10% da população mundial apresentam dislexia em algum grau. “É uma questão de formação do cérebro”, diz especialista

- Getty Images

Dados da International Dyslexia Association apontam que cerca de 5 a 10% da população mundial apresentam dislexia em algum grau. Em países de língua portuguesa, os números são semelhantes: em uma sala com 30 alunos, pelo menos 2 ou 3 podem ter a condição.

De acordo com Andréa Chaves, mestra em psicologia e especialista em saúde mental e atenção psicossocial, a dislexia consiste em uma dificuldade específica de aprendizagem que afeta principalmente leitura, escrita e, às vezes, a compreensão de textos. “Não está ligada à inteligência, mas sim à forma como o cérebro processa as informações linguísticas”, afirma à coluna Claudia Meireles.

Embora seja comum, a dislexia sem diagnóstico acaba se tornando um empecilho tanto para o aluno, quanto para o professor, por exemplo. “É uma questão de formação do cérebro”, pontua a psicóloga.

Causas da dislexia

Segundo Andréa, as pesquisas mostram um forte componente genético associado à condição. “Se um dos pais tem dislexia, a probabilidade de o filho apresentá-la pode chegar a 40%”, diz ela.

“Estudos de neuroimagem também revelam diferenças na ativação de áreas cerebrais ligadas à linguagem e à decodificação de palavras. E, assim como outras questões de saúde mental, a vulnerabilidade genética também tem forte influência”, conta a especialista.

Dislexia
De 5 a 10% da população mundial apresentam dislexia em algum grau

As principais características da dislexia incluem:

  • Leitura lenta;
  • Dificuldade em reconhecer palavras familiares;
  • Trocas de letras;
  • Inversões (“b” por “d”, por exemplo);
  • Erros ortográficos persistentes;
  • Dificuldade em reter sequências.

“Aproximadamente 80% das crianças com dificuldades escolares têm, como causa principal, problemas relacionados à leitura. Mas nem todas têm dislexia. A questão aqui também é o baixo estímulo à leitura, com uso de tela desde cedo”, alerta Andréa Chaves.

Como identificar a dislexia

Questionada sobre os sinais mais relevantes que podem sugerir que uma pessoa tenha o quadro, a psicóloga aponta: demora para aprender a ler, leitura mais lenta que a os colegas, dificuldade para copiar do quadro, erros frequentes de ortografia, resistência em atividades que envolvem leitura e escrita e cansaço desproporcional nessas tarefas. “Em adultos, pode aparecer como dificuldade para organizar textos ou para falar em público”, acrescenta.

Dislexia
Como saber se eu tenho dislexia? Especialista ensina a identificar

Após determinada suspeita do diagnóstico, o primeiro passo é procurar uma avaliação multiprofissional. “Psicólogo, psicopedagogo e fonoaudiólogo costumam estar na linha de frente”, ressalta a especialista. “Em alguns casos, também é indicado o acompanhamento com neuropediatra ou neurologista. Para a International Dyslexia Association, a abordagem integrada é a que traz melhores resultados”, continua.

Como tratar

De acordo com Andréa Chaves, ainda não se fala em cura para dislexia, mas em intervenção precoce e acompanhamento contínuo. “Estudos mostram que, quando o diagnóstico é feito cedo, as chances de avanço são muito maiores. O tratamento envolve psicopedagogia, fonoaudiologia, estratégias de leitura diferenciadas e adaptações pedagógicas”, esclarece.

“Sem diagnóstico, a dislexia pode afetar a autoestima, o rendimento escolar e até as escolhas profissionais. Pesquisas indicam que crianças com o quadro têm até três vezes mais risco de evasão escolar se não receberem apoio adequado. Com acompanhamento, a história muda: muitos adultos disléxicos são altamente criativos e bem-sucedidos. Nomes como Steven Spielberg, Agatha Christie e Leonardo da Vinci são exemplos históricos de pessoas com a condição que deixaram grande legado”, argumenta a mestra em psicologia.

Por fim, Andréa Chaves reflete que a questão nunca será a diferença, e sim, a inclusão efetiva. “A situação de qualquer dificuldade sempre será a inclusão.”

FONTE: METROPOLES