ES reduz pobreza, mas desigualdade segue concentrada em áreas vulneráveis

Análise mostra alta concentração de extrema vulnerabilidade no Nordeste, Caparaó e Litoral Sul, demandando políticas territoriais urgentes

- Publicação, elaborada pela Coordenação de Estudos Sociais do IJSN, é baseada nos dados de dezembro de 2024 do Cadastro Único (CadÚnico), traz informações sobre pobreza e extrema pobreza. Foto: governo do ES

Por Thamiris Guidoni

Espírito Santo tem avançado na redução da pobreza e da extrema pobreza, mas os desafios ainda se concentram em desigualdades regionais que pedem políticas públicas específicas. Essa é a principal leitura do Perfil da Pobreza no Espírito Santo 2024, estudo elaborado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN).

Para o diretor-geral do IJSN, Pablo Lira, a pesquisa mostra que o Estado está em um patamar melhor do que a média nacional, mas a luta contra a pobreza precisa ser mais territorializada e integrada.

“Este diagnóstico é um instrumento fundamental para orientar ações mais efetivas de combate à pobreza e redução das desigualdades sociais. Olhar para os dados auxilia na elaboração de políticas assertivas, que podem transformar realidades locais de forma mais eficiente”, destacou.

O estudo revela que 65,6% das pessoas cadastradas no CadÚnico vivem em situação de pobreza e 41,1% em extrema pobreza. Quando se observa a população total capixaba, os números caem para 26% e 16,3%, respectivamente.

A pobreza, porém, não se distribui de forma uniforme: enquanto microrregiões mais dinâmicas economicamente, como a Serrana e parte do Norte, têm indicadores mais baixos, áreas como Nordeste (37,4%), Caparaó (34,2%) e Litoral Sul (33,8%) concentram os maiores índices.

Lira explica que o contraste está diretamente ligado à estrutura produtiva de cada local. “Na Grande Vitória e em regiões com polos industriais ou agrícolas diversificados, a renda circula mais, há mais oportunidades de emprego e as políticas sociais encontram terreno mais fértil. Mas em áreas com municípios pequenos e com menos dinamismo econômico, a pobreza estrutural se perpetua”, analisou.

Um dos pontos centrais apontados pelo diretor é que não há solução única para a pobreza. “Não se combate a pobreza apenas com transferência de renda. É preciso garantir o mínimo para que as famílias sobrevivam, mas também oferecer educação, formação profissional e inserção no mercado de trabalho. Só assim há emancipação social”, reforçou.

Ele lembra que programas como o Bolsa Capixaba e os investimentos no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) têm papel fundamental, mas precisam estar integrados com políticas de geração de emprego e renda. “É a combinação de proteção social com crescimento econômico que muda realidades”, disse.

Situação de rua e vulnerabilidades urbanas

O estudo mostra ainda que 3.643 pessoas em situação de rua estão cadastradas no CadÚnico. Mais da metade vive na Região Metropolitana (65,5%), com destaque para Vitória (953), Serra (534) e Vila Velha (514).

As condições de moradia também revelam vulnerabilidades: 26,2% das famílias cadastradas não têm acesso a esgotamento sanitário adequado, 15,7% vivem sem abastecimento regular de água e 7,7% sem coleta de lixo adequada.

Segundo Lira, esses dados são essenciais para orientar investimentos municipais. “Esses indicadores ajudam prefeitos e gestores locais a identificar prioridades. Onde falta saneamento, a política pública deve olhar primeiro para a infraestrutura. Onde há maior concentração de pessoas em situação de rua, é preciso ampliar serviços de acolhimento e assistência. Os números dão clareza para onde ir”, explicou.

Educação como chave para romper ciclos

O levantamento também aponta que a taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais cadastradas no CadÚnico é de 7,9%. Já a média de escolaridade entre adultos de 25 anos ou mais é de apenas 6,7 anos, o que não chega a completar o Ensino Fundamental.

Para o diretor do IJSN, esse é um dos pontos que mais preocupam. “Sem educação, a pobreza se reproduz de geração em geração. É por isso que precisamos pensar em políticas que combinem transferência de renda com oportunidades educacionais. O Estado tem investido em educação integral e formação técnica, o que pode ser decisivo para romper esse ciclo”, avaliou.

O estudo traz ainda ferramentas que ajudam gestores a planejar políticas públicas, como o Índice de Desenvolvimento da Família (IDF) e o Índice de Gestão Descentralizada Municipal (IGDM). Além disso, o IJSN lançou um painel interativo online, que permite visualizar dados por município.

Lira ressalta que a ideia é transformar informação em decisão: “Os dados não são apenas números em relatórios. Eles já estão sendo usados pelo governo estadual e podem apoiar as prefeituras no aprimoramento de políticas locais. A gestão pública baseada em evidências é o caminho para políticas mais eficientes”.

Apesar dos avanços, o desafio é grande. O Espírito Santo precisa consolidar políticas de assistência, mas também ampliar a base econômica em regiões mais vulneráveis. “Precisamos de um Estado capaz de proteger os mais pobres, mas também de um ambiente econômico que gere oportunidades. Só assim vamos reduzir as desigualdades regionais de forma duradoura”, concluiu Pablo Lira.

A íntegra do estudo pode ser acessada no site do IJSN: Perfil da Pobreza no Espírito Santo 2024.

FONTE: ES BRASIL