Emprego informal e “bicos” distorcem o desemprego real no Brasil

Por Jackson Rangel

A queda oficial do desemprego no Brasil não traduz a realidade do mercado de trabalho. Por trás dos números celebrados pelo governo, cresce uma massa de trabalhadores empurrados para o emprego informal, para os bicos e para ocupações precárias, sem direitos, estabilidade ou perspectiva de ascensão social.

O IBGE registra como “ocupado” quem trabalha ao menos uma hora por semana. Esse critério infla artificialmente o índice de emprego e mascara a expansão do subemprego. Vendedor ambulante, motorista de aplicativo exausto, diarista sem contrato e trabalhador intermitente entram na estatística como sucesso econômico. Na prática, sobrevivem.

O avanço dos chamados “bicos” consolidou uma categoria anti-CLT. São pessoas fora da proteção previdenciária, sem férias, sem 13º salário, sem garantia de renda no mês seguinte. Trabalham mais, ganham menos e vivem sob permanente instabilidade. O risco foi transferido do Estado e das empresas para o indivíduo.

Benefícios sociais, embora essenciais no combate à pobreza extrema, também distorcem a leitura do mercado de trabalho quando não caminham junto com políticas de emprego formal. Auxílios acabam funcionando como colchão de sobrevivência, não como ponte para o trabalho digno. O resultado é uma economia de baixa produtividade, dependente e estagnada.

O discurso oficial celebra recordes de ocupação enquanto ignora a qualidade do emprego gerado. O Brasil não enfrenta apenas desemprego. Enfrenta um processo silencioso de precarização estrutural, que transforma trabalhadores em prestadores eventuais, sem identidade profissional e sem futuro previdenciário.

Medir trabalho sem medir renda, direitos e estabilidade é autoengano estatístico. O país precisa voltar a discutir emprego de verdade, com carteira assinada, proteção social e crescimento sustentado. O resto é maquiagem numérica para consumo político.