Educar para a igualdade: 4 práticas antirracistas na primeira infância

No Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial (3/7), é essencial reforçar que o racismo também atravessa os primeiros anos de vida e que cabe à sociedade combatê-lo desde o berço

- Imagem ilustrativa

Mesmo diante de situações que evidenciam a marginalização de bebês e crianças pequenas negras, ainda existe a crença de que essa parcela da população não sofre com o racismo. Porém, esse é um sintoma real. A infância é um período de formação profunda de valores, identidades e afetos, e é também quando o racismo pode ser aprendido ou desconstruído.

Essa discussão é aprofundada no livro Democratização do colo: Educação antirracista para e com bebês e crianças pequenas, escrito pela educadora e doutora em Educação e relações étnico-raciais Jussara Santos e publicado pela Papirus Editora. A obra traz relatos e reflexões potentes sobre como o racismo estrutura relações desde os primeiros anos de vida, e como práticas educativas conscientes podem transformar essa realidade.

Segundo a autora, garantir respeito, segurança, contato com a pele, olhares e o máximo de conforto possível é fundamental para boas experiências de bebês e crianças negros e brancos nos espaços educacionais.

“A sociedade brasileira foi construída a partir do racismo. Então, considerar a existência do racismo nos espaços, a meu ver, é o pontapé inicial para o fomento do antirracismo. E, a partir disso, a formação continuada, a empatia, o estudo, o compromisso são formas de vivenciar o antirracismo no cotidiano da educação infantil”, ressalta Jussara Santos.

A seguir, confira quatro práticas essenciais para educadores, cuidadores e famílias que desejam promover relações mais igualitárias desde os primeiros anos de vida:

  1. Ambientes que representem todas as infâncias

Entenda o que está sendo representado ao redor, as imagens na parede, os brinquedos e os livros da sala. Os elementos mostram a diversidade de crianças do Brasil? Incluir bonecas negras, histórias de crianças indígenas, bolivianas e de outras etnias é uma forma de fortalecer o sentimento de pertencimento, especialmente em espaços onde a maioria é preta ou parda.

  1. Palavras constroem mundos

Evite eufemismos como “moreninho” ou apelidos baseados na cor da pele. Use com respeito os termos corretos: preto, pardo, indígena; ou negro, em referência mais ampla a pretos e pardos. Não normalize comentários ou expressões racistas, mesmo que disfarçados de brincadeira ou “memes”. Silenciar diante do racismo também é uma forma de ensiná-lo.

  1. Afeto e cuidado sem estigmas

Todos os bebês precisam ser acolhidos com o mesmo carinho, colo e escuta atenta. É preciso romper com práticas que desumanizam ou estigmatizam crianças negras, como chamar de “cachorro” aquela que morde ou não intervir quando há exclusão. O racismo também aparece na negligência e na ausência de cuidado.

  1. Educar para a diversidade de tons e histórias

A “cor de pele” não é bege; é marrom, é preta, é a soma das nossas origens. Desde cedo, as crianças devem ter acesso a lápis de diversas tonalidades e não delimitar o conhecimento, como se todas as peles fossem salmão.

Promover práticas antirracistas na primeira infância é garantir que as próximas gerações cresçam mais conscientes, respeitosas e comprometidas com a justiça social. Combater o racismo é tarefa de todos os dias, e começa agora, no colo, nas palavras que escolhemos e nas histórias que contamos.