A recente postura do deputado estadual Sérgio Meneguelli ao rebater a acusação de ter recebido propina no ano 2000, supostamente de José Carlos Gratz, revela mais sobre o próprio parlamentar do que sobre o mérito do caso em si.

Ao atacar e descredibilizar os chamados “presos políticos” do Espírito Santo, aqueles encarcerados em 2022 sob circunstâncias duvidosas e sem a devida observância das garantias constitucionais, Meneguelli cruzou uma linha. Essa linha é algo que nenhum defensor autêntico da democracia pode ignorar.

Sem entrar no mérito da acusação que enfrenta, o problema central está em sua resposta. Ela é uma tentativa de se livrar da pecha de corrupto atacando terceiros que, embora polêmicos, seguem sendo cidadãos cujos direitos deveriam ser respeitados. Ao tachá-los de criminosos sem julgamento definitivo, o deputado escolheu o caminho mais fácil. E também o mais perigoso.

Se o estado de direito ainda tem algum valor para Meneguelli, é de se esperar que ele saiba distinguir entre crítica política legítima e adesão ao discurso punitivo sem base jurídica. Sua fala reproduz, ironicamente, uma lógica autoritária que ele sempre alegou combater. Esta lógica aproxima-o do discurso da esquerda mais radical, aquela que, historicamente, relativiza a liberdade quando convém a seus inimigos.

O silêncio de Meneguelli diante da situação dos capixabas presos ou perseguidos por posicionamentos políticos diz ainda mais. Enquanto levanta bandeiras de moralidade e se projeta como defensor do cidadão comum, ele ignorou e até desprezou casos em que os direitos e garantias fundamentais foram claramente violados. Esse comportamento seletivo revela não apenas incoerência. Ademais, compromete sua credibilidade.

Num momento em que o Brasil ainda enfrenta desafios graves à sua democracia e às liberdades individuais, não há lugar para discursos que flertem com a intolerância ou o autoritarismo judicial. Políticos que dizem defender a liberdade precisam fazê-lo para todos. E não apenas quando convém à sua própria narrativa.

Meneguelli errou ao acreditar que atacar poderia elevar sua defesa. Pelo contrário, expôs uma faceta de conivência com práticas contra as quais deveria se insurgir. A política exige firmeza e coerência, duas virtudes que, nesse episódio, ficaram guardadas no silêncio que, no fim, só o condena.