EDITORIAL| A civilização perdeu o medo no Sul do Estado

O Sul do Espírito Santo virou um ponto fora da curva. Enquanto o Brasil ainda convive com estatísticas brutais de homicídios, a região entrega um cenário quase europeu. Cachoeiro de Itapemirim registra 7,6 homicídios por 100 mil habitantes, um índice que qualquer cidade de primeiro mundo assinaria embaixo. Não é exagero chamar isso de um patamar altamente civilizado.

A pergunta inevitável é: por que aqui funciona?

A resposta incomoda os que preferem narrativas simplistas. Funciona porque há Estado presente, porque as polícias atuam com método, porque a comunidade participa, porque há economia viva e porque existe uma cultura local que rejeita a banalização da morte. É um conjunto de fatores que não aparece em discursos, mas aparece no resultado final.

A verdade é que o Sul aprendeu a dizer não ao caos.

Não há milagre. Há organização, investigação qualificada, inteligência policial e controle territorial. A polícia não age no improviso. A Justiça não fecha os olhos. As instituições locais, quando pressionadas, respondem. E a população não tolera a violência como destino inevitável, ao contrário de regiões que naturalizaram a barbárie.

O Sul do Estado mostra que segurança pública não é utopia, é gestão. Mostra que violência não é DNA de nenhum povo, é consequência de escolhas — ou da falta delas. Quando o poder público assume responsabilidade e a sociedade cobra, o crime perde espaço. Simples assim.

Cachoeiro, com seus indicadores de país desenvolvido, prova que é possível quebrar o ciclo de morte que ainda aprisiona outras regiões. Aqui, a civilização não é teoria. É prática. É rotina. É estatística.

E é exatamente por isso que incomoda tanto: porque revela que o impossível sempre foi apenas uma desculpa.