
Sérgio Vidigal é, sem dúvida, uma das figuras mais longevas e influentes da política capixaba. Com quatro mandatos como prefeito da Serra e passagem expressiva pela Câmara dos Deputados, sua trajetória política moldou os rumos do município por quase três décadas. Mas em 2024, pela primeira vez em muito tempo, Vidigal não figura diretamente nas urnas. Ainda assim, a pergunta central permanece: onde ele realmente está — e a que custo continua operando?
Um estilo de poder: o velho método com novas caras
Desde o início de sua carreira, Vidigal demonstrou aptidão para formar sucessores. Audifax Barcelos, um nome inicialmente sem grande musculatura política, chegou à prefeitura da Serra com o apoio decisivo de Vidigal. Agora, o script se repete. Weverson Meireles, figura igualmente desconhecida da maioria do eleitorado até então, ascende ao cargo mais importante da cidade sob o manto da mesma tutela.
Não se trata de um acaso. Trata-se de um modelo de gestão de poder: nomear, lançar e controlar. O apadrinhamento é o núcleo da engrenagem, e quem aceita a bênção, aceita também a condição de continuidade — não de projeto, mas de dependência.
A nova peça do tabuleiro: o projeto familiar
A situação ganha contornos ainda mais delicados com a nova movimentação de Vidigal: viabilizar a candidatura de seu filho, Serginho Vidigal, a deputado federal. A estratégia é antiga no Brasil — o famoso “curral eleitoral familiar” — mas, mesmo sendo recorrente, não deve ser normalizada. Ela escancara a degeneração do processo democrático em sucessão hereditária, onde o nome do clã vale mais que o histórico de atuação.
Não é a primeira vez que Vidigal transforma o espaço público em laboratório familiar. Em eleições passadas, usou sua gestão como trampolim para lançar Sueli Vidigal, figura que hoje comanda, nos bastidores, grande parte das ações da Prefeitura. É ela quem dá o tom ao governo Weverson, que por sua vez apoia Serginho, fechando o ciclo.
Assim, o que se constrói não é um projeto de cidade ou de futuro, mas um ciclo vertical de poder, onde o protagonismo nunca sai das mãos da mesma família. Uma espécie de dinastia que se disfarça de alternância, mas mantém os mesmos interesses, os mesmos comandos e os mesmos acordos de bastidores.
O verniz do apoio oficial: Casagrande no tabuleiro
Vidigal também sabe jogar no plano estadual. Ao alinhar-se com o governador Renato Casagrande, tece uma rede de proteção e influência que lhe garante oxigênio político mesmo fora da linha de frente. Trata-se de uma troca clássica: apoio municipal e bases eleitorais em troca de espaço no jogo estadual e prestígio na máquina pública.
Esse movimento, embora legal, tem um efeito corrosivo na percepção popular: o povo vota acreditando em mudança, mas recebe sempre os mesmos bastidores maquiados com novas promessas. A política, assim, vai se tornando um teatro — onde mudam os personagens do palco, mas nunca os autores do roteiro.
A gestão paralela: o papel de Enivaldo Dias
Dentro dessa estrutura de poder, há nomes que não aparecem nas urnas, mas que operam com força nos bastidores. É o caso de Enivaldo Dias, atual secretário de Serviços da cidade da Serra. Ele atua como os olhos, ouvidos, braços e pernas de Sueli dentro da gestão Weverson. Muito além de suas atribuições institucionais, Enivaldo tornou-se um operador político: pressiona lideranças comunitárias, vereadores e agentes públicos, usando o acesso a serviços e atendimentos nas comunidades como moeda de barganha.
Essa prática é profundamente antiética. É a institucionalização do toma lá, dá cá em sua forma mais crua. Atendimentos básicos, que deveriam ser universais, passam a ser condicionados ao apoio político. A Prefeitura, nesse contexto, perde sua função de Estado e passa a agir como extensão de um comitê eleitoral familiar. Trata-se de uma gestão que transforma a máquina pública em instrumento de chantagem silenciosa — e isso, por si só, já seria suficiente para revoltar qualquer cidadão consciente.
Democracia ou dinastia?
O problema não é o filho ser candidato. O problema é o caminho pelo qual isso acontece: sem debate amplo, sem trajetória política autônoma, sem serviço prestado à população. O sobrenome Vidigal é o único ativo político de Serginho — e isso, por si só, já coloca em xeque a legitimidade da proposta eleitoral que o embala.
Em uma democracia madura, o direito de se candidatar é universal — mas o direito de influenciar continuamente o processo político a partir de estruturas familiares, transformando o poder público em extensão da própria árvore genealógica, deveria ser amplamente questionado por todos que defendem a alternância de ideias e projetos.
Onde está Vidigal, afinal?
Vidigal está onde sempre esteve: no centro das articulações políticas da Serra, ainda que hoje prefira os bastidores às aparições diretas. Atua através de Sueli, se preserva por Weverson, comanda com Enivaldo Dias, e projeta o futuro com Serginho. Uma quadrilha de influência política — legal, porém profundamente imoral — que forma o espelho de um projeto de poder que não quer acabar. Quer apenas mudar de rosto.
O eleitor capixaba tem diante de si, em 2024, uma escolha crucial: dar continuidade a uma engrenagem que se alimenta de sobrenomes e manipulações, ou romper com esse modelo de dominação silenciosa, em que o voto se torna apenas a formalização de um jogo já decidido nos bastidores.
Enquanto isso, a pergunta permanece em eco:
E Vidigal, onde fica nesse jogo?
Fica no mesmo lugar de sempre: no poder. A diferença é que, agora, não assina mais os atos — apenas os orienta.