
Casada pela primeira vez aos 12 anos, Dona Maria José Pereira Silva Santos teve o primeiro filho aos 13. Natural de Itajú do Colônia, na Bahia, ela passou a juventude entre mudanças constantes, viagens em carrocerias de caminhão e trabalhos pesados no campo. O resultado dessa trajetória impressiona, ao longo da vida, foram 28 filhos, quase todos nascidos em casa. Hoje, aos 78 anos, vivendo no Espírito Santo, ela olha para trás com orgulho e também com cicatrizes.
A infância foi interrompida cedo. Fugiu de casa ainda menina para viver com o namorado, diante da pobreza e das dificuldades que a cercavam. Os partos se sucediam um atrás do outro. “Quando completava um ano, eu já ganhava outro”, conta. Dos 28 filhos, 13 estão vivos, e todos, como faz questão de frisar, seguiram o caminho do trabalho.
A vida de Dona Maria foi de resistência. Grávida, seguia para a roça colher cacau, café ou cana-de-açúcar. “Até no dia de ganhar bebê eu estava trabalhando, para ter dinheiro e comprar fralda”, lembra. E não eram as fraldas industrializadas de hoje, mas de pano, costuradas em casa.
Com o tempo, decidiu buscar independência. Cansada do trabalho em fazendas, começou a cozinhar para fora: bolos, arroz, canjica. Saía de madrugada para vender aos trabalhadores e, com o dinheiro juntado em cruzeiros, conseguiu comprar a própria casa. Foi o início de uma virada marcada pelo empreendedorismo doméstico.
O presente, no entanto, é menos generoso. Morando com o atual marido, de 74 anos, pedreiro, Dona Maria enfrenta dificuldades financeiras. Aposentada, denuncia ter caído em um golpe ligado ao INSS e sobrevive com pouco mais de mil reais por mês, valor que precisa ser dividido entre remédios, contas de casa e alimentação. “Não é fácil. Tem dia que falta”, admite.
A saúde, fragilizada por pneumonia e problemas nos ossos, limita as atividades. Ainda assim, ela se mantém ativa em pequenos afazeres domésticos, com a mesma resiliência que atravessou décadas.
“Eu sofri, sofri até reviver de novo”, resume, sem perder a fé. A vida de Dona Maria é o retrato de uma geração de mulheres que sustentaram famílias numerosas em meio à escassez, reinventando-se no trabalho e no cuidado. Uma história de dureza, mas também de resistência e aprendizado.
FONTE: ESPÍRITO SANTO NOTÍCIA