
As doenças cardíacas continuam sendo a principal causa de morte no mundo, mas os tipos de problemas cardíacos que mais matam mudaram significativamente ao longo dos últimos 50 anos. É o que aponta uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (25/6), no Journal of the American Heart Association.
O novo estudo foi feito com base em dados de mortalidade nos Estados Unidos entre 1970 e 2022. Segundo os autores, as mortes por ataque cardíaco, também chamado de infarto agudo do miocárdio, caíram 89% no período. Em 1970, mais da metade das mortes por doenças cardíacas era causada por infarto; em 2022, essa proporção caiu para menos de um terço.
Já os óbitos por outros tipos de doenças cardíacas, como arritmias, insuficiência cardíaca e problemas causados pela hipertensão arterial, cresceram 81% e passaram a representar quase metade de todas as mortes por doenças do coração.
“Esse cenário mostra o quanto avançamos no tratamento dos infartos, mas também revela novos desafios. A insuficiência cardíaca e as arritmias estão crescendo e precisamos enfrentá-las”, diz a médica Sara King, primeira autora do estudo e pesquisadora da Universidade Stanford, em comunicado.
Doenças cardíacas
- As doenças cardíacas são a principal causa de morte no mundo.
- Elas são causadas por distúrbios do coração e dos vasos sanguíneos.
- As principais doenças do coração incluem: doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, arritmias, doença cardíaca reumática, cardiopatia congênita, e condições como hipertensão e infarto agudo do miocárdio.
- Hipertensão arterial, colesterol alto e tabagismo são os principais fatores de risco para doenças cardíacas.
- Outras condições também podem colocar as pessoas em maior risco, incluindo: diabetes, sobrepeso e obesidade, dieta pouco saudável, sedentarismo e uso excessivo de álcool.
De acordo com os pesquisadores, estudar as tendências de morte por doenças cardíacas ao longo do tempo é essencial para entender melhor a saúde da população, guiar políticas públicas, orientar estratégias clínicas e, assim, melhorar os desfechos para os pacientes, inclusive em outros países, como o Brasil.
Avanços no tratamento salvam vidas
A pesquisa destaca que a redução nas mortes por infarto reflete uma série de avanços médicos e mudanças sociais. Entre elas estão a popularização da reanimação cardiopulmonar (RCP), o uso de desfibriladores, a criação de unidades coronarianas e o desenvolvimento de terapias medicamentosas eficazes, como betabloqueadores, estatinas e antiplaquetários.
Também contribuíram a melhora nos exames, nos procedimentos — como a introdução da angioplastia e dos stents coronários — e o diagnóstico mais precoce de emergências cardíacas, feito com ajuda de exames como a troponina de alta sensibilidade. Além disso, políticas públicas voltadas para o controle do tabagismo e o estímulo à atividade física ajudaram a reduzir os fatores de risco.
Apesar disso, o cenário atual ainda preocupa. Nos Estados Unidos, as doenças cardíacas foram responsáveis por 31% de todas as mortes entre 1970 e 2022. Apenas em 2022, 24% das mortes no país tiveram origem cardíaca.
Insuficiência cardíaca e arritmias
Entre as doenças que mais aumentaram, as arritmias se destacam, com uma alta de 450% nas taxas de mortalidade ao longo do período. A insuficiência cardíaca também cresceu bastante, com um salto de 146%. Os casos de morte por problemas causados pela pressão alta aumentaram 106%.
De acordo com os pesquisadores, os dados preocupam porque, ao contrário do infarto, essas condições tendem a ser crônicas e progressivas. Envelhecimento populacional, sedentarismo, obesidade, hipertensão e diabetes são apontados como fatores que estão impulsionando esse crescimento.
Segundo o estudo, a obesidade nos EUA passou de 15% da população na década de 1970 para 40%, em 2022. A hipertensão também subiu de 30% para quase 50% no mesmo período.
“Hoje, temos pessoas sobrevivendo a ataques cardíacos, mas que, ao envelhecer, desenvolvem outras doenças do coração. Precisamos olhar para isso com urgência”, afirma a médica Latha Palaniappan, uma das autoras do estudo.
Prevenção
Para os especialistas, o foco agora deve ser a prevenção de doenças cardíacas crônicas, com ações que comecem ainda na infância. A American Heart Association recomenda medidas como alimentação saudável, prática de atividade física, abandono do tabagismo, controle da pressão arterial, do colesterol, do peso e da glicemia, além de sono de qualidade.
“Vencemos grandes batalhas contra o infarto, mas a guerra contra as doenças do coração ainda não acabou. O futuro da cardiologia está em ajudar as pessoas a envelhecerem com corações saudáveis”, finaliza King.
FONTE: METROPOLES